Do céu para a Espanha
13/junho/2014
[Paulo Marcelo Sampaio é o autor destas crônicas,
interpretando os protagonistas pelos quais assina; as crônicas publicadas no
Mundo Botafogo são uma gentileza do autor.]
Caro Vicente!
Desde que aquele
artilheiro – sim, aquele mesmo que reclama da violência das torcidas, mas faz
gestos obscenos para quem o provoca gritando o nome de outro clube quando o
encontra – conseguiu a façanha de fazer um gol quase deitado, na Copa das
Confederações do ano passado, fiquei preocupado. Nossa Fúria tinha perdido a
fúria? Os adversários já tinham aprendido a jogar contra nós? Os toques rápidos
e curtos, esperando o momento certo para um lance em profundidade, eram coisas
do passado? Ou só funcionavam em clubes como o barcelona, o real madrid, o
atlético de madrid, recheados de estrangeiros? Todas essas dúvidas vieram à
minha cabeça depois do chocolate que levamos do Brasil. Nunca, em tempo algum,
estive tão pessimista. Aqui no broadcast celestial, sempre tive a certeza das
vitórias, com o otimismo de quem vai à Plaza para ver o triunfo do toureiro.
Não há, para mim, a menor chance de tragédia. Deve ser porque sou vacinado
contra isso, meu amigo Don Del Bosque. Quem não se lembra da Copa de 86? Aquele
tirambaço do Michel explodindo no travessão, entrando dentro do gol e o juiz
australiano deixando o jogo seguir. E o gol de cabeça do Sócrates, que usava
uma estranha fita na cabeça, muito comum aos Nadais da vida, em completo
impedimento? Aquilo nunca saiu da minha cabeça. Já tínhamos sediado uma Copa,
mas não éramos tão respeitados. Já falei dessa minha teoria com o Telê Santana
e ele concorda. Mas isso é passado.
Hoje nos vêem com
outros olhos, Del Bosque. Temos uma defesa consistente. O Piqué, que apesar de
ter Bernabeu no nome, joga no barcelona, joga com tranquilidade. Também pudera.
Depois de enfrentar os artilheiros mais perigosos, deve ser bom chegar em casa
em caiur nos braços de uma musa como a Shakira. Sérgio Ramos não fica atrás e
volta e meia belisca um golzinho lá na frente. Isso, Vicente, cheguei onde
queria: os atacantes. É isso que mais me preocupa. Talvez o excessivo toque de
bola tenha burocratizado nosso futebol, como desconfiava no início dessa carta.
Não sei, não sei. Estou aflito. O fato é que nosso ataque, nas eliminatórias,
fez poucos gols se se levar em conta a fraqueza de nossos adversários:
Bielorússia, Finlândia e Geórgia.
Tenho saudades dos
atacantes raçudos. Como o Evaristo de Macedo, por exemplo. Ele fez história nos
nossos dois grandes clubes por nada temer, sem perder a elegância, é claro.
Minha esperança? Iniesta, sempre com um coelho a tirar da cartola. Mas Torres,
Pedro e Diego Costa não me animam muito não. E fique de olho na refeição dos
rapazes. Acarajé, vatapá, muganzá, caruru são combinações explosivas que podem
complicar as coisas lá na Fonte Nova, logo mais. Quando estiver no Rio de
Janeiro, para o jogo contra o Chile, não deixe de procurar o Evaristo. Ele está
sempre caminhando ali pelo Leblon. Pelo carinho que ele tem conosco, pode dar
uma boas dicas para nossos atacantes.
Suerte!
O amigo,
Miguel Muñoz
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