[Paulo Marcelo Sampaio é o autor destas crônicas, interpretando os
protagonistas pelos quais assina; as crônicas publicadas no Mundo Botafogo são
uma gentileza do autor.]
Do céu para a França
25/junho/2014
Michel, meu caro!
No
começo até me zanguei. Mas tomei para mim os ideais daquela nossa antiga
revolução: liberdade, igualdade e fraternidade. Alegaram congestionamento no
Sky Mail, o correio aqui de cima. Não acreditei muito, mas resolvi não
esquentar. Sou o último a mandar palavras de incentivo, embora elas, à essa
altura, não sejam lá mais necessárias.
Quando
vi meus amigos escrevendo essas missivas, me incomodei um pouco. Desde aquela
entrada maldosa de Vavá, que me obrigou a jogar até o final do primeiro tempo
com muitas dores aquela semifinal da Copa de 58, guardo uma certa mágoa do
Brasil. Aquela Copa, com o Just tinindo, era nossa. Deixei isso pra lá. Como
reza uma música bem bossa-nova que caíria bem na voz aveludada do Aznavour – ou
de Chevalier talvez – brigas nunca mais. Mas a cada Mundial iniciado, corria
nas minhas veias a sede de vingança. Três delas eu ainda estava por aí.
Ficamos,
é verdade, em terceiro lugar quando o Brasil foi campeão. Mas de lá até aqui
viramos a pedra nos sapatos, ou melhor, nas chuteiras deles. Me deu um frio na
barriga quando você, Platini, isolou aquele pênalti. Mas eles estavam com
pontaria pior. E contamos com as santas costas de Carlos, o arqueiro deles.
Nunca tinha visto um gol contra em pênalti. Pois lá no México, em 1986, aconteceu.
Fregueses
de caderninho. É o que tenho a dizer dos anfitrões dessa Copa, a Copa da alta
média de gols, a Copa das zebras, a Copa cruz dos favoritos, a Copa dos
latino-americanos. Vivi 83 anos até que bem vividos. Fiz algum sucesso naquela
geração de ouro do Stade Reims. Mas nunca fui protagonista como você e o
Zinedine. Ah, o Zidane! Que jogador esse jogador de sangue argelino.
Falam
muito do nosso título em casa, mas com que alegria vi a atuação de Zidane
contra nossas vítimas nas quartas-de-final de 2006. Quem esteve no estádio não
acreditava em tanta categoria. Ali ele jogou o fino, como você jogou, Michel.
Agora vivemos a era do Karim Benzema, mais um francesinho-argelino a nos
encantar. Amanhã ele estará onde eu sempre quis estar: no templo do futebol, o
Maracanã. Vai ser bom jogar sem pressão. Assim a chance de espetáculo será
maior.
Esperando
pela segunda estrela dos Bleus, te abraça o
Bob
Joquet
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