[Paulo Marcelo Sampaio é o autor destas crônicas, interpretando os
protagonistas pelos quais assina; as crônicas publicadas no Mundo Botafogo são
uma gentileza do autor.]
Do
céu para a Inglaterra
19/jun/2014
Caro Gordon:
passados 44
anos, aquela cena não me sai da memória. Ainda no primeiro tempo, Carlos
Alberto, num passe de três dedos, pegou toda a nossa defesa desprevenida. Foi
um desespero tentar alcançar o Jairzinho. Incorporando o Garrincha, seu
antecessor no grande Botafogo, o aspirante a Furacão foi à linha de fundo.
Antes mesmo de Wright pular com Pelé, você já estava se jogando no chão. Mais
tarde, revendo o lance pela TV, não entendíamos como aconteceu aquele milagre.
Anos depois, num desses encontros que a Federação Inglesa organiza, me
confessou: o gol de Pelé teria sido mais bonito do que a defesa que você fez.
Acho que estava sendo sincero. “A defesa que parou o mundo”, diria um locutor
inglês. Aquela foi uma partida difícil, truncado, estudado como um jogo de
xadrez. E com lances violentos, como a entrada de Lee em Félix e o troco dado
por Carlos Alberto no mesmo Lee, que vimos de longe, lá da nossa intermediária.
Uma pena não termos ficado mais na Copa. Mas guardo daquela derrota um troféu:
a camisa de Pelé, onde enxuguei as lágrimas que teimavam em escorrer do meu
rosto suado.
Vejo com
simpatia o Roy Hodgson. Fomos contemporâneos, ele seis anos mais novo do que
eu. Jogou em clubes pequenos. Por isso raras vezes nos enfrentamos. Quando
encerrou a carreira foi corajoso. Saiu da ilha para ir para um lugar mais
cinzento ainda: a Suécia. Lá conquistou muitos títulos. Mas foi na Suíça que
ele conseguiu sua maior façanha: classificar a seleção patra a Copa de 94 e
para a Euro 96, torneio que o país dos cantões na participava desde 1966.
Dá um orgulho danado
de ver garotos de times de menor expressão como Everton e Tottenham Hotspur no
English Team. Bonita a reverência de Gérrard e a Lampard, ícones do país que
criou o futebol. Como deixá-los de fora de uma Copa num país que reinventou o
velho esporte bretão? Mais uma prova do caráter de nosso coach. Além de tudo
isso, precisa-se de muita coragem para ir a uma Copa do Mundo pensando na
próxima. E ainda que que se ter muito humildade para admitir mudanças. Leio
pela internet daqui que Rooney vai jogar mais centralizado. Não ficará nas
pontas. Mesmo com a boa atuação contra os italianos, você admite erros, muito
diferente dos técnico da seleção anfitriã.
Já estamos aqui na
expectativa dessa jogo de vida ou morte. Ficamos ansiosos. Parece que os
ponteiros do relógio demoram a girar. E como diria um ex-presidente de um clube
inglês sediado em Laranjeiras, hoje é vencer ou vencer!
Os bons votos
do
Robert Morre
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