segunda-feira, 4 de agosto de 2014

‘Consertando o Botafogo’, ou, 'foi o tiro de partida para a destruição do Botafogo'

Em seis anos de mandato do NÓDOA nunca vi nenhum sócio – exceto nos programas de candidatos a eleições no Botafogo – se dar ao trabalho de refletir profundamente sobre a necessidade urgentíssima de mudar a visão, a filosofia, a gestão, a estratégia do nosso Clube.

Nunca vi, isto é, exceto um: Bernardo Santoro.

Não o conheço pessoalmente, não tenho absolutamente nenhuma simpatia pelo partido de que é militante, mas acompanhei as suas severas críticas à gestão do NÓDOA quando a maioria o bajulava, quando a maioria não propunha políticas alternativas, quando a maioria entendia que estávamos finalmente no caminho certo, quando a maioria se convencia que devido ao NÓDOA ser convidado por universidades e outras instituições a apresentar a ‘gestão desportiva modelo’, a dita gestão seria um exemplo mundial de como fazer – em suma, as best practices do futebol.

Não era. Nunca embalei nesse caminho porque desde abril de 2009, quando o NÓDOA permitiu que a diretoria do Botafogo almoçasse com a diretoria do flamengo em vésperas de decisão da Taça Rio, logo se viu como é que ele agiria e defenderia o Botafogo – agiria para a sua ambição política e sem defender o Botafogo, como no paradigmático caso do Engenhão, em que se submeteu ao parceiro do partido político no qual acabara de se filiar.

Eu vi isso em 2009. Em 1 de outubro escrevi isto:

Por outro lado, o almoço com os urubus foi, de um ponto de vista simbólico, uma fraqueza do Botafogo e uma auto-humilhação – além de uma enorme falta de inteligência. Almoçar com os urubus em véspera de final, após anos a fio beneficiados pelas arbitragens que nos prejudicaram, significou que demos luz verde a novas atitudes de sonegação contra nós. Durante as finais do campeonato carioca e durante a disputa do campeonato brasileiro. Almoçar com os urubus foi o tiro de partida para a destruição do Botafogo. – 1 de Outubro de 2009.


Eu vi isso. Bernardo Santoro também.

Os baba ovos, não.

No dia 16 de dezembro de 2009 Santoro iniciou, no Canal Botafogo, uma série designada ‘Consertando o Botafogo’. Em dez capítulos, Santoro deu-se ao trabalho de avaliar a situação e propor soluções de gestão em todas as áreas do Clube.

Não consegui obter a totalidade dos endereços, mas eis alguns deles onde se podem ler as dezenas de análises, chamadas de atenção e propostas de solução:








Bernardo Santoro agiu, trabalhou numa proposta séria, e avisou.

Independentemente do valor das suas propostas – mas por isso mesmo eram propostas, e proposta é algo para se discutir e burilar antes de se implementar – agiu e avisou quando a maioria babava ovo para o NÓDOA.

Coerentemente, desfiliou-se do Movimento Carlito Rocha porque esse Movimento acabou por alinhar com o NÓDOA dividindo influências e Santoro, defensor de uma lista pura e não espúria, apoiou a chapa da oposição em 2011.

Entretanto, há menos de seis meses, uma parte de botafoguenses que acenava bandeirinhas e levianamente acreditava em títulos impossíveis, acabou por ver na Taça Libertadores a ‘notável’ gestão do NÓDOA transformando em trampa todo o ouro em que toca: um Clube que mereceu da Conmebol a expressão ‘O Gigante Voltou’, um Clube com uma torcida faminta de um brilharete, que deu show no Maracanã, que foi a maior assistência de todos clubes da fase de grupos, acabou naquela humilhação internacional a que infelizmente todos assistimos meio embasbacados.

Aí, finalmente, e depois de sabermos a razão de termos sido expulsos do Ato Trabalhista, a maioria dos baba ovos, incluindo colunistas botafoguenses de conceituados portais desportivos, e outros torcedores, ou fecharam as suas contas no Facebook e no Twitter ou passaram a pedir a cabeça do NÓDOA.

O maior problema que acarreta o apoio dos baba ovos a diretorias perniciosas e com fins obscuros é que perante a sua evidente submissão aumenta a confiança das diretorias cuja astúcia sabe aprofundar o apoio dos baba ovos para continuarem a fazer o bem para si e o mal para o Clube e, simultaneamente, serem legitimadas socialmente por eles.

Houve baba ovos que continuaram a babar, mas perante a escandalosa comissão de 5% que a empresa da família do NÓDOA cobra do maior patrocínio do Clube, todos os baba ovos viraram a casaca e também passaram a pedir a cabeça do NÓDOA – quer os que beneficiaram da gestão do NÓDOA, porque necessitam de mudar para o próximo poder parasitando-o, tal como as pulgas fazem passando de um cão para outro antes de o ‘seu’ cão cair morto, e os que não beneficiando com coisa nenhuma o apoiaram babados porque a sua intelectualidade não permite melhor.

Tarde demais. Tarde demais, como previu Santoro. Tarde demais, como em 2009 previ que “almoçar com os urubus foi o tiro de partida para a destruição do Botafogo”.

Tarde demais porque o NÓDOA conseguiu, ponto por ponto, destruir tudo aquilo que vinha da gestão anterior, tudo aquilo que era o respeito pelas nossas tradições e pela nossa Glória, tudo aquilo que acalentava a dedicação dos nossos torcedores mesmo em tempos agrestes.

O NÓDOA conseguir levar a torcida botafoguense à exaustão.

Agora dizem que Santoro quer matar o Botafogo com o texto que fez circular – vindo quase certamente de quem nunca fez qualquer programa da dimensão do proposto por Santoro, e provavelmente quem nunca dedicou dezenas de milhares de horas de pesquisa, divulgação e combate por um Botafogo melhor, como faz o Mundo Botafogo há 7 anos.

Quem pode ter realmente matado o Botafogo foi a sua diretoria, os seus apoiantes e os baba ovos ‘inocentes’.

O que Santoro quis foi abalar estas pobres alminhas botafoguenses que acreditam em Papai Noel ou que estão convencidos que Deus toma partido num jogo de futebol. Os alemães não acreditam nisso, trabalharam duramente anos a fio e acabaram de se sagrar campeões do mundo em cima Argentina e campeões da Europa de sub-19 em cima de Portugal.

Mas… como acabar com estas mentalidades botafoguenses que acreditam no curto-prazo – como a maioria dos torcedores brasileiros, e por isso o futebol do país está como está – e não apostam no médio e no longo prazo, numa estruturação como foi capaz de fazer, por duas vezes, Paulo Antônio Azeredo, o presidente que soube preparar antecipadamente oito títulos cariocas – quatro dos quais em tetracampeonato – e que reuniu num só time Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo, Zagallo e Quarentinha, e ainda montou os juniores que venceriam todos os títulos em 1967 e 1968?

Que intenção teve Bernardo Santoro ao escrever que “o Botafogo já morreu?

Em minha opinião, uma única: abalar estas cabeças mal pensantes e mal discernentes dos botafoguenses.

Chamar a atenção para o que aconteceu com o Glasgow Rangers ou com a Fiorentina, ambos falidos devido a um passivo de 25 e 22 milhões de euros, respectivamente (irrisório, comparado com cerca de 700 milhões de reais de passivo botafoguense), tendo que alterar a sua designação e regressar à ribalta a partir da base, desde a 4ª divisão. E, repare-se, o Glasgow Rangers foi o maior vencedor do futebol escocês com 54 títulos de campeão nacional.

Tanto é verdade que Santoro pretende abalar falsas convicções que, mais à frente do texto, escreve:

Esse cenário apocalíptico só não acontecerá nas seguintes situações:

E logo a seguir escreve:

Como não acredito em “Sócio-Noel”, precisaremos tomar uma posição forte em relação ao futuro do clube. O tempo de salvar o clube através de responsabilidade administrativa e ST com voto acabou. Insistir com isso é adiar o futuro com uma morte lenta, dolorosa e que pode resultar em mais vergonhas esportivas.”

Não estou a defender Santoro, que não conheço de parte alguma, nem sei se seria competente, por exemplo, num cargo diretivo do Botafogo, nem sei se todas as suas ideias são interessantes, mas talvez seja uma voz a ouvir, uma voz certamente a juntar-se a muitas outras a fim de se “tomar uma posição forte em relação ao futuro do Clube”. Quer dizer… Santoro entende que temos futuro, futuro como CLUBE GRANDE, mas apenas em determinadas condições.

Partilho em absoluto esse pensamento.

Realmente, o que sei é que ele fez propostas, o que eu sei é que justamente há quatro anos avisou de um futuro sombrio se a gestão do NÓDOA prosseguisse como em 2009 – e prosseguiu, e piorou ano após ano.

O que eu sei é que escrevi, dois meses antes de Santoro começar o seu programa ‘Consertando o Botafogo’, que o NÓDOA tinha dado “o tiro de partida para a destruição do Botafogo”.

E, cinco anos depois, o que aconteceu, meus amigos?

Quer isto dizer que Santoro quer chocar para haver margem de manobra a fim de percebermos, claramente, que temos que nos mexer à beira de um precipício, e que a nossa sobrevivência como GRANDE CLUBE passa por nos mobilizarmos em torno de uma visão, de uma ideia de fundo, do sacrifício Clubista na reconstrução do nosso futuro e na nossa capacidade de resiliência, se formos capazes de impor um corpo diretivo dedicado ao Botafogo e competente para tomar medidas radicais de recuperação da nossa glória.

Dizermos que o flamengo está como nós, e portanto nada de alarmes, é o mesmo que manter tudo aquilo que nos conduziu ao hoje. É que o flamengo vale um bilhão e o Botafogo 117 milhões (segundo estudo recente), isto é, a marca Botafogo vale 17% da marca flamengo e, além disso, não tem a seu favor as autoridades do país, o dirigismo desportivo do país, a arbitragem do país e a mídia do país – como têm os cathartiformes do clube da Gávea.

Se quisermos acabar com o Botafogo a curto/médio prazo transformando-o em clube da dimensão do América e do Bangu, não escutemos o que Santoro diz, não leiamos o que escreve, não façamos caso das suas propostas.

Dito de outro modo: fujamos de todos os Santoros botafoguenses e aninhemo-nos no seio daqueles que o criticam sem perceber o sentido in-extremis da sua intervenção e sem que antes tenham feito alguma proposta séria para mudar a gestão e o destino do Clube.

Ou dito de outro modo ainda: não escutemos o Mundo Botafogo, não leiamos o Mundo Botafogo, não aceitemos os alertas do Mundo Botafogo, esqueçamos que o Mundo Botafogo lutou como pôde na sua trincheira minoritária durante estes anos contra a diretoria que está prestes a afogar-nos se não agirmos JÁ!

O meu amor ao Botafogo será perene até que a morte nos separe, mas a minha paciência para ler e ouvir tantos inócuos e levianos disparates, está chegando ao fim.

2 comentários:

Gil disse...

Rui,

Lendo tua mensagem lembrei de uma corrente política que se deixou enganar por Montenegro e o NÓDOA. Corrente que se comprometeu e apoiou o NÓDOA, desde que tivesse alguns cargos de vice presidências. O NÓDOA engabelou os mesmos.
Ao assumir, o NÓDOA não deu cargo nenhum e o apoio acabou. Essa corrente política tentou ou pensou e impugnar a eleição e depois, por algum motivo, desistiu. Depois de alguns meses de mandato do NÓDOA, essa mesma corrente fez uma reunião aberta ao público, sem nada a acrescentar. Estive presente nessa reunião com um amigo em comum.
Essa reunião serviu mais para dizerem o que todos já sabiam ou tentarem se justificar. Acredito que estavam muito mais interessados em conseguir alguma ideia ou um norte no que fazer.
No início dessa reunião solicitaram que nos apresentássemos e teve um bate-boca.
Lembra daquela bandeira amarela de protesto no Engenhão? Aquela em que falava dos amarelões Lúcio Flávio e Juninho? Pois bem, na hora que o nosso amigo se apresentou disse que era um dos responsáveis pela mesma. Sabe que um dos presentes (um desses que questiona e critica a posição do Bernardo Santoro) ficou possesso. Gritou, gesticulou, quase ofendeu o amigo pela atitude. Teve a coragem, petulância, de comparar o Garrincha ao Lúcio Flávio.

Lembrei disso ao ler tua mensagem e mostrar como a maioria que frequentam General Severiano são e (não)pensam. Não querem mudar a visão, filosofia, gestão e estratégia do nosso Clube.

Pobre do atual Botafogo!
Pobre de nós, Torcedores!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

O Movimento supostamente 'oposicionista' de que falas é farinha do memso saco. Acompanhei sempre o evoluir das posições deles porque me pareciam os melhor colocados para assumir uma atitude frontal - honrando o Grande Botafoguense que dá o seu nome ao Movimento -, mas a breve trecho percebi que o negócio era 'compra' e 'venda' de cargos. Quando o NÓDOA lhes passou a perna e não lhes deu cargos, apesar do apoio deles e da promessa que lhes fez, retomaram a sua oposição nos moldes anteriores. Nada acrescentam ao clube.

Agora é o Grande Salto. Não se começam bem. O subtítulo 'Chega de bater na trave', além de tirar força ao 'Grande Salto', insinua que o NÓDOA bateu na trave. Ora, o NÓDOA não só não bateu na trave como atirou fora do enquadramento da baliza...

É mesmo uma sub-frase do tipo vamos mexer com o torcedor mais emocional, mais imediatista, menos racional.

Tenho o Marcelo Guimarães como sujeito interessante quando foi diretor de marketing, mas também vi muitos exageros popularuchos impróprios da grande Glória futebolística brasileira que, apesar de tudo, representamos.


Gostaria de ver listas fortes, capazes de discutir ideias e não cair nos popularismos que os candidatos a políticos tanto gostam. Vamos ver como as coisas evoluem...

Abraços Gloriosos.

Botafogo, Palmeiras e Fluminense no pódio Mundial

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo Em minha modesta opinião o Botafogo devia contestar junto da FIFA a realização da final do Mund...