quarta-feira, 18 de junho de 2014

Garrincha, o flecha fulniô


‘Garrincha, a flecha fulniô das Alagoas. Mestiçagem, futebol-arte e crônicas pioneiras’ é o longo título da obra que o jornalista alagoano Mário Lima, botafoguense fanático, tributa “o anjo das pernas tortas”, seu grande ídolo.

O livro foi impresso pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos e patrocinado pelo Ministério do Esporte e pelo Governo do Estado, que divulgou o lançamento através do portal Agência Alagoas. O cerimonial de lançamento da obra assente na tese de pós-graduação de Mário Lima é aberto ao público e realiza-se hoje, às 19 horas, no Museu no Museu da Imagem e do Som do Estado (Misa), no bairro do Jaraguá.

O livro, que é a 62ª obra identificada pelo Mundo Botafogo sobre o nosso clube ou os nossos craques, fala sobretudo das origens do campeão Garrincha, que nasceu em Pau Grande mas era filho de Amaro dos Santos, nascido em Quebrangulo, interior do Estado de Alagoas, que foi criado na aldeia dos fulniôs, índios de origem pernambucana que se refugiaram no território alagoano em 1860.

Em 1914, aos 26 anos, Amaro e a sua esposa rumaram ao Rio de Janeiro e 19 anos depois nasceu Manoel dos Santos, o ‘Garrincha’.

Imagem: Adaílson Calheiros

O 'Flecha Fulniô', um dos primeiros apelidos de Garrincha devido à sua origem e velocidade, é descrito pormenorizadamente por Mário Lima, sendo muito revelador em alguns aspetos, tais como a tão propalada tendência de Garrincha para o álcool radicar na cultura fulniô, porque Garrincha fora amamentado com uma bebida alcoólica misturada na mamadeira. Porém, a obra é ainda mais abrangente, porquanto entra no âmago do futebol e descreve o processo de miscigenação do futebol brasileiro, inspirando-se em jornalistas como Mário Filho e Nélson Rodrigues.

PS: Já havia sido publicado um poema sobre o Garrincha fulniô, o qual foi musicado e faz parte da opereta ‘O Marco do Meio-Dia’, de António Nóbrega. O Mundo Botafogo publicou-o a 11 de abril de 2012 no seguinte endereço: http://mundobotafogo.blogspot.pt/search?q=fulni%C3%B4

Eis o poema FLECHA FULNIÔ, de Wilson Freire

Sumaúma grande / Brotou curumim. / Ave miúda / Nasceu passarim.
Sangue fulniô, / Pegadas toré, / Um arco no corpo, /A flecha mané.
Fogo na galera / Delira aplaudir, / Um anjo torto / Barroco a sorrir.
Garrincha no nome, / Nas pernas garruchas, / No chute um morteiro, / Um canhão de buchas.
Um deus nos estádios / Abrindo as retrancas, / Um desengonçado /Que as redes balança.
Mandinga, catimba, / A lógica, a tática, / De nada valiam / Para as pernas mágicas.
Mais um gol de letra, / De placa, um golaço, / A bola o adora / E corre pro abraço.
Malasartes do jogo / Driblando zagueiros, / Um bobo pra corte, / Um herói brasileiro.
Sem maracanã, / Sem drible na área, / Na noite sem grito / Estrela solitária.

8 comentários:

Émerson disse...

Rui e amigos,

Sabia que Garrincha tinha ascendentes indígenas (pensava que eram de Águas Belas), mas não sabia que havia um Botafoguense alagoano que escrevera sobre o Mané.
Salve, salve!

Ruy Moura disse...

Émerson, pelo que sei deve ser uma obra interessante - e não mais do mesmo - sobre Garrincha e sobre a mestiçagem do futebol brasileiro. Não sei que interpretações fará op autor, mas espero que naia na armadilha de que o Vasco da Gama foi o 1º clube a ter negros nas suas fileiras. A luta, nessa altura, centrava-se muito mais na crise do amadorismo e emergência do profissionalismo do que a questão dos negros no futebol.

Se ele souber abordar bem o assunto mestiçagem poderá ser uma obra invulgar.

Abraços Gloriosos.

Émerson disse...

Rui,
Meu irmão foi ao lançamento do livro, ontem, em Maceió e disse que, ao chegar, o autor estava cantando o hino do Botafogo...
Comprou um exemplar autografado.
Deve ser bom o livro.
Saudações Gloriosas!

Émerson disse...

Rui,
Segue uma ligação sobre o lançamento do livro.
http://globoesporte.globo.com/al/noticia/2014/06/jornalista-alagoano-lanca-livro-sobre-raizes-indigenas-de-mane-garrincha.html

Ruy Moura disse...

Que bom, Émerson! Fico muito contente por si. Entretanto, não se esqueça d eme dar umas dicas sobre o livro para eu saber, por curiosidade, de que modo o autor articulou Garrincha, miscigenação e futebol-arte.

Abraços Glorisos.

Ruy Moura disse...

Que bom, Émerson! Fico muito contente por si. Entretanto, não se esqueça d eme dar umas dicas sobre o livro para eu saber, por curiosidade, de que modo o autor articulou Garrincha, miscigenação e futebol-arte.

Abraços Glorisos.

Émerson disse...

Rui,
Estou na metade do livro, e estou gostando muito. Há alguns erros de digitação, mas nada que comprometa.
O autor, de uma maneira geral, começa falando sobre a diáspora do povo fulniô, de Águas Belas, Pernambuco, forçado pelos coronéis do séc. XIX a saírem de suas terras, e que vieram, grande parte deles, parar aqui em Alagoas.
O avô e o pai de Garrincha, "seu" Amaro, nasceu em Quebrangulo, terra de Graciliano Ramos, e de lá foi a Recife, em busca da sobrevivência. Lá, conheceu a mãe de Garrincha, casaram-se e foram para o interior do Rio.
O autor se baseou em O Negro no Futebol Brasileiro, de Mário Filho, e Estrela Solitário, do famigerado Ruy Castro, para tentar discorrer sobre a miscigenação do brasileiro como parte fundamental para o surgimento do futebol-arte, com o gingado e o improviso do nosso povo.
Fala que a origem de Garrincha, símbolo maior desse futebol-arte, revela muito de suas características, como o pouco ligar para as conveniências sociais, a poligamia e até a porpensão à bebida.
Finda o livro com crônicas muito boas, de João Saldanha, Paulo Mendes Campos, Teotônio Vilela, Drummond, Tostão, Armando Nogueira e outros.

Ruy Moura disse...

Beleza, Émerson!

Esse ruy castro é um cathartiforme canalha, porque só um canalha pode querer diminuir o brilho da estrela de Garrincha.

Quanto ao livro do Mário Filho, assenta em inverdades. O Vasco não foi o 1º nem o 2º clube a introduzir negros nas suas fileiras. 1º foi o Bangu e 2º foi o Botafogo. É certo que foram presenças esporádicas, mas foram. Quanto ao Vasco ter sido o grande benemérito anti-racista também não colhe, porque a presença de negros tinha a ver com as questões do amadorismo / profissionalimso, à época. Em quase toda a década de 1920 a luta foi feroz, e entrou pela década de 30 a dentro. E não foi só nom futebol: foi também no pólo-aquático, na natação, no basquetebol, no remo.

Abraços Gloriosos.

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