quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Carlito Rocha e o Biriba

O Biriba, cachorro do ex-zagueiro Jamyr Sueiros, o Macaé, adoptado por Carlito Rocha, constitui, porventura, a primeira grandiosa manifestação de um clube altamente supersticioso. O fenómeno ocorreu quando a equipa de reservas do Botafogo venceu o Madureira por 10x2. No décimo gol, um cãozinho preto e branco invadiu o campo e o supersticioso Carlito Rocha, então presidente do clube alvinegro, considerou que fora um sinal.

Há outra versão de Milton Coelho que diz que por ocasião de uma partida entre aspirantes do Botafogo e do Bonsucesso, Macaé levou o seu cachorro ao jogo e ele atrapalhou o goleiro adversário, que não pôde defender o gol. E foi por isso adoptado por Carlito Rocha.

Desde aí, o Biriba acompanhava sempre a equipa e era um verdadeiro amuleto de sorte. Carlito nem admitia que o Botafogo perdesse com a presença do Biriba, e a verdade é que após a primeira derrota para o São Cristóvão no campeonato, por 4x0, o Botafogo não mais perdeu e tornou-se campeão. O pequeno animal tinha lugar privilegiado no banco de reservas da equipa, participava das comemorações dos gols, entrava nas fotografias da equipa e era mascote oficial.

Os convites para o Botafogo excursionar, após a conquista do campeonato de 1948, incluíam sempre o Biriba e certa vez o Botafogo foi jogar um amistoso contra o São Paulo no Pacaembú. A exigência era que a equipa estivesse completa, o que incluía o Biriba. Porém, o cãozinho foi barrado na estação ferroviária, tendo sido determinado que viajasse em compartimento especial. O presidente exigia um lugar de passageiro comum, o que foi aceite após muita insistência, desde que o animal pagasse passagem. Como não queria gastar mais dinheiro, Carlito resolveu colocar Biriba no lugar do meia-esquerda Baduca, cuja bagagem foi retirada de bordo e o cartão de embarque transferido para o Biriba. Barrado por um cachorro, Baduca encerrou a carreira naquele momento.

Biriba era personagem tão importante que, em certa ocasião, a directoria do Vasco da Gama tentou impedir a entrada do cachorro em São Januário, mas Carlito Rocha colocou o animal debaixo do braço e desafiou:

“Ninguém impede o presidente do Botafogo de entrar onde quer que seja e quem estiver com ele entra, com certeza.” - E entrou com o Biriba debaixo do braço.

O Biriba ainda hoje permanece no imaginário botafoguense, sendo muito frequente que o Botafogo seja representado por um cachorro. O cãozinho mágico ilustra imensos livros sobre o Botafogo e sobre o futebol. O paulista Vicente Cascione relembra essa magia registada na sua infância:

“O futebol semeou imensas nostalgias que hoje ainda despontam intensamente em mim, apesar do largo tempo vivido. (…) Certa vez veio ao velho estádio da Vila, o Botafogo, do Rio. Trouxe Pirillo e o novato Santos, anos depois transformado num enciclopédico Nílton Santos. O Botafogo trouxe Biriba, o cãozinho mascote, que ingressou com o time no gramado e deu uma volta olímpica saudando os enternecidos torcedores. Ele tinha as cores do clube. O menino, na cabine, ouviu o pai descrever a cena que o encheu de encantamento e o marcou para sempre: a entrada de Biriba e sua corrida em torno do gramado. Nunca mais o vi. Mas repeti muitas vezes esse momento nítido que jamais se dissipou em minha lembrança” [texto completo em A Tribuna, suplemento AT Revista, 22 de Janeiro de 2006].

Fontes principais
Thelma Linhares, “Superstições no futebol brasileiro”, em http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/hist27.htm
Vicente Cascione, “O Cãozinho Biriba”, em A Tribuna, suplemento AT Revista, 22 de Janeiro de 2006
http://www.futebolimaginario.com.br/index.php?sec=historiaFutebol&opc=historiasPitorescas

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