Creio
que nenhum jornal do mundo dedica duas páginas ao início do campeonato
brasileiro de futebol. A haver seria certamente um jornal português. É o caso
do jornal desportivo ‘A Bola’.
‘A
Bola’ dedica duas páginas de texto, fotos e informações sobre os vinte clubes
que disputam o Brasileirão 2013. Para curiosidade vossa acerca do que se
publica na terra de Camões e de Fernando Pessoa acerca do futebol brasileiro,
aí vai o texto completo escrito por João Almeida Moreira, correspondente de ‘A
Bola’ no Brasil:
“SÃO
PAULO – O Fluminense parte para o Brasileirão-2013 como alvo abater dos outros
19 competidores. Campeão em 2010 e 2012, patrocinado pela generosa Unimed,
conduzido com pragmatismo por Abel Braga e com Fred, Thiago Neves, Wellington
Nem, Diego Cavalieri, Jean, Deco (suspenso preventivamente por doping) e outros craques no plantel o
tricolor aparece em primeiro lugar nas bolsas de apostas, à frente de
Corinthians e Atlético Mineiro. Mas o que valem as bolsas de apostas num
desporto imprevisível como o futebol? pouco. E numa prova como o Brasileirão? Quase
nada.
O
Brasileirão é o mais indecifrável campeonato do planeta por um conjunto de
motivos. Comecemos pelos bons: tem 12 grandes a nível nacional (este ano apenas
11 porque o Palmeiras está na Série B), mais meia dúzia de grandes de nível
regional; nomes anónimos no papel neste momento podem tornar-se protagonistas
ao longo da prova porque as estrelas no Brasil nascem a qualquer momento e em
qualquer lugar. Por estas razões, em 56 edições houve 17 campeões – uma média
única em ligas de alto nível.
Depois,
há também os maus motivos: por causa do calendário caótico, o Brasileirão
continua mesmo quando a seleção joga – no caso de 2013, até durante a Taça das
Confederações –, o que levou nos últimos anos o Santos a jogar sem Neymar quase
metade do tempo; decorrendo em simultâneo com a abertura do mercado europeu, os
clubes podem perder jogadores nucleares e refazer a equipa em andamento; emocionalmente
instáveis, os dirigentes abortam projetos ao mudar de técnico à primeira
oportunidade (foram 27 alterações em 2012).
Somados
estes dados, o favoritismo do Flu perde força. Tal como o do Corinthians,
campeão estadual paulista, nacional, da Libertadores e do Mundial de Clubes em
ano e meio e o do Atlético Mineiro, vice-campeão em 2012 e de forma unânime
considerada a melhor equipa do Brasil no primeiro semestre de 2013. Outros
clubes como Internacional, sob orientação de Dunga, e o Grémio, com veteranos
como Zé Roberto, Dida, Elano ou Cris, podem ter uma palavra a dizer.
Ou
o São Paulo de Rogério Ceni, Ganso e Luís Fabiano, tricampeão na década
passada. E porque não o Santos, se conseguir manter Neymar, ou o Cruzeiro,
agora com Dedé? E o Botafogo, que se passeou no estadual carioca? O Flamengo,
em remodelação, corre por fora e o Vasco da Gama, em plena crise financeira e
desportiva, corre mais por fora ainda, sob o comando de Paulo Autuori. Dos
clubes menos grandes, só o Coritiba sonha com o título. Mas o Brasileirão-2013
é também, seguindo a tendência dos últimos anos, mais rico. Craques globais
como Forlán (Inter) e Seedorf (Botafogo) chegaram no ano passado, e estrelas brasileiras, como Ronaldinho
(Atlético Mineiro) há dois anos e Pato (Corinthians) em janeiro, vão voltando
cada vez mais jovens. Enquanto a Europa é atingida por uma recessão, os 20
principais clubes brasileiros tiveram uma receita conjunta de 1,25 mil milhões
de euros.
Mais
dinheiro, mais craques, a emoção e a desordem de sempre: eis o
Brasileirão-2013. Quem quiser saber quem vai suceder ao Fluminense, o melhor é
ir acompanhando a prova jornada a jornada e arriscar um palpite lá mais para
dezembro.”
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