sexta-feira, 31 de maio de 2013

Um pedaço do clube

por Rui Moura
Blogue Mundo Botafogo

Um recorte de jornal de 1983, publicado no blog do PC Guimarães, conta a história da oferta que a Juventus de Turim fez para a aquisição de Garrincha em 1959, um ano após a conquista do 1º campeonato do mundo de Seleções. Cito:

Representando o Botafogo, João Saldanha e Renato Estelita foram convidados pelo dono do Juventus, Gianni Agnelli para almoçar na Fiat. Conversa vai, conversa vem, Agnelli acabou botando as cartas na mesa: perguntou o preço de Garrincha. Quando os dois disseram que Garrincha não tinha preço, Agnelli engasgou, pois já tinha prometido o craque à torcida.

O empresário achou que os dois estavam brincando e acenou com um milhão de dólares, que na época, há quase 25 anos, representava bem mais que os 4 milhões de dólares que o Udinese promete ao Flamengo por Zico.

Saldanha explicou então que não era só Garrincha que não tinha preço, era o Botafogo. Garrincha naquele momento era o Botafogo, confundia-se com o clube, e os seus dirigentes não tinham o direito de vendê-lo.

Garrincha não foi vendido e passou quase dez anos cobrindo o clube alvinegro de glórias, enchendo-o de títulos e conquistas e seus torcedores de alegria.”

A citação feita vem a propósito da eventual venda de Dória e Vitinho (além da especulação sobre a venda de Fellype Gabriel e outros), jovens revelações das categorias de base do Botafogo, acerca das quais a diretoria não se tem cansado de realçar como uma aposta fundamental da política de resgate da tradição de grandes revelações no clube, incluindo atletas que outrora foram campeões do mundo pela Seleção Brasileira.

Salvaguardas as distâncias entre Garrincha por um lado e Dória e Vitinho por outro, pode-se dizer que hoje, após tanto alarde da diretoria em considerar as jovens revelações como um bem essencial do clube, se trata de vender ‘um pedaço do clube’.

A situação financeira do Botafogo é difícil desde a interdição do Engenhão, mas, por isso mesmo, a diretoria deveria ter-se munido de todos os instrumentos jurídicos legais e de toda a influência que um clube como o Botafogo deve ter para, por todos os meios possíveis, anular a interdição do Engenhão, que considero prepotente, ilegal, de natureza política, sem transparência, sem laudo e sem credibilidade.

Ao invés, a diretoria entregou-se nas mãos do prefeito em comunicado oficial, colocando-se ao lado da prefeitura na interdição do estádio, cujo titular de tão importante cargo público já se viu como nos trata, brandindo o Engenhão como instrumento político contra César Maia e, quiçá, contra o Botafogo, prejudicando-o aproximadamente em 45 milhões de reais até ao fim do ano se a interdição não for levantada.

Em vez de combater a dita interdição e, por outro lado, procurar soluções financeiras alternativas ao desmanche da equipa que estava finalmente a dar os seus frutos, a diretoria pretende trilhar o caminho mais fácil e mais prejudicial ao nosso clube, designadamente no que respeita às nossas justas ambições desportivas.

E o presidente, cuja presença é crucial neste momento, pede o licenciamento da sua função e desaparece sem deixar rasto, mostrando mais uma vez a falta de transparência dos seus atos, porque ninguém acredita na bondade da sua justificação – cujo prolongamento além do aceitável não se compreende e prejudica gravemente o clube.

O presidente, honrando as funções para que foi eleito, deveria optar entre a sua renúncia ou o seu regresso, sob pena de não termos presidente efetivo nem ninguém com autoridade suficiente para travar os acontecimentos nefastos que desabaram sobre o clube. E temos sorte de os atletas, depois de um anúncio público extemporâneo contra a concentração antes dos jogos, terem sido eticamente irrepreensíveis ao cumprirem a promessa de jogar como sempre o fizeram nos últimos meses. E agora voltaram atrás com a sua decisão a bem do clube.

Em vez de autoridade, a diretoria manifestou a sua submissão, quer na resposta aos atletas quando se negaram a concentrar-se, quer principalmente na resposta que não deram à prepotência da prefeitura. E, como se verifica, a diretoria poderia ter atuado, porque, afinal, os jogadores reconheceram o desgaste físico de não se concentrarem e agiram a favor do clube. Mas deveria ter sido a diretoria a demovê-los. A decisão assertiva dos atletas deveria envergonhar esta diretoria submissa. Assim, estamos em auto-gestão, que por acaso funciona porque temos um grupo de atletas digno e coeso.

Em relação à prefeitura ocorre o mesmo. Se tivéssemos uma diretoria assertiva e pressionante, certamente que as coisas não estariam como estão atualmente e o Biotafogo não sofreria tantos prejuízos como vai sofrer.

Agora, mais do que renunciar passivamente a “um pedaço do clube”, arriscamo-nos a que a diretoria venda um ‘pedação’ do clube e nos lance numa crise só comparável à gestão destruidora de Charles Borer nos idos da década de 1970.

É hora de os torcedores, organizados e não organizados, mas sob a batuta de alguém credível e enérgico – onde está a oposição? –, cerrarem os punhos e chamarem para si a responsabilidade de inverter os destinos do clube combatendo com todas as suas forças a inação de uma diretoria inócua e incapaz de responder à altura da nobreza e das tradições do Botafogo de Futebol e Regatas.

OUSEMOS LUTAR, OUSEMOS VENCER!

3 comentários:

MAM disse...

Vitinho também??? Aqui no Rio de Janeiro não sabemos de nada sobre isso.

Acho que o Botafogo deveria vender o Jefferson e segurar o Dória.
(aqui já se dá certo a saída dele para o Manchester United) Cerca de 10 milhôes

Com a grana do Goleiro estaríamos aliviando as contas do clube, mas vale ressaltar que vivemos em outros tempos, na época do Mané o passe do jogador era integralmente do clube, hoje não. Portanto fica díficil, mas sinceramente espero que o Dória fique.

Aurelio Bulhões Pedreira de Moraes-Jornalista disse...

O Botafogo NÃO DEVE VENDER O Jefferson. E duvido que vá. Até agora, só boatos sem provas de nada!

Ruy Moura disse...

Vender o Jefferson era a maior burreira do mandato desta diretoria. Se estamos bem como estamos, muito defesas às inacreditáveis defesas do nosso goleiro. Uma equipa começa no goleiro e na defesa. Jefferson é a nossa maior segurança.

Abraços Gloriosos!

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