segunda-feira, 20 de maio de 2013

Rafael Marques, um 'senhor'


Não sou a favor de Rafael Marque como titular do time do Botafogo, mas reconheço o esforço, a dedicação silenciosa e a atitude modesta com que Rafael Marques trabalhou para melhorar e mudar, principalmente na Taça Rio, a má imagem que deixara sobretudo em 2012 e no início de 2013.

Todos os leitores do Mundo Botafogo sabem que eu tenho preferência por atletas com atitudes cerebrais, isto é, éticas, leais, assertivas e mentalmente diferenciadas da esmagadora maioria dos jogadores que dizem mais do mesmo, que acrescentam nada em cima de nada e que reagem emocionalmente e desequilibradamente. Não me basta a técnica, é preciso caráter. No desporto, o caráter é fundamental para as vitórias.

Se, por exemplo, compararmos as atitudes e ou as declarações de Leandro Guerreiro, Lúcio Flávio, Zé Roberto, Dodô e Jobson, com as atitudes e as declarações de Seedorf, Lodeiro, Rafael Marques, Fellype Gabriel e Bolívar, compreenderemos facilmente as diferenças abismais de atitudes e ou de comportamentos. E, provavelmente, encontramos nessas diferenças parte das justificações para que o time atual tenha tido tanto sucesso e seja tão coeso como há muito tempo não era.

Houve claramente uma vitória de balneário, com Seedorf e Oswaldo Oliveira a comandarem as operações. O treinador – reconheço sem nenhum problema –, conseguiu, a partir do jogo da virada com o Resende, e com consolidação na semifinal da Taça Guanabara contra o Flamengo, uma união notável num balneário que substituiu a solidariedade entre todos pelas disputas entre alguns.


Não obstante, gostaria de realçar a mudança significativa do rendimento de Rafael Marques, muito ajudada obviamente por Oswaldo Oliveira deixar de insistir, erradamente, em que ele fosse o homem de área que nunca foi e, finalmente, pudesse ir buscar jogo mais atrás – tarefa que se adequa mais ao seu perfil. Sublinho que devemos reconhecer que o fiasco de Rafael Marques em mais de 20 jogos tem em Oswaldo Oliveira uma boa quota de responsabilidade, porque ao não dispor de homens de área entregou essa tarefa a Rafael Marques – que nunca será homem de área numa equipa de primeira grandeza. Aliás, Oswaldo Oliveira chegou a descartar Rafael Marques de continuar no Botafogo porque “não teve ambiente para se adaptar”, quando se provou, sobretudo na Taça Rio, que o problema não era de ‘ambiente’, como se viu claramente através das declarações de apoio e solidariedade dos colegas. O problema não foi de ‘ambiente’, mas de erro crasso de Oswaldo Oliveira.

Entretanto, enquanto muitos jogadores do Botafogo, num passado recente, reagiam com alguma truculência, com declarações de ‘terceiro mundo’ que eram apenas mais do mesmo e, em certos casos, portadoras de uma ponta de imbecilidade às críticas que lhes eram feitas, Rafael Marques nunca reagiu mal, jamais criticou quem o criticava, nada fez para escapar às suas responsabilidades e às críticas por vezes ásperas mas justas que lhe eram dirigidas e, em vez disso, sofreu em silêncio, manteve-se sereno no modo de enfrentar a adversidade, teve consciência das suas fragilidades óbvias, foi persistente em emendar os erros e as más exibições, revelou-se honesto e trabalhador.

Rafael Marques mereceria, na festa de entrega dos prémios aos melhores atletas realizado pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, o título de jogador dotado de maior resiliência no campeonato estadual de 2013.

A minha estimada amiga Cristina Aranha, Diretora Social, com Rafael Marques na sessão de autógrafos

É em homenagem às suas atitudes e aos seus comportamentos de ‘primeiro mundo’ que transcrevo trechos de declarações suas que mostram o tal caráter que eu entendo ser muito importante para o sucesso desportivo em muitos casos por esse mundo afora.

“Lógico que algumas críticas passavam do limite, mas eu acho que foram justas. Eu não estava rendendo. Não faz o que tem de fazer, as coisas ficam assim. As críticas são válidas e o futebol é assim.”

“Jamais pensei em desistir. Isso não é da minha pessoa. Quem convive comigo no dia a dia sabe disso, nunca desisti. Sempre continuei trabalhando, quietinho na minha, respeitando tudo e querendo evoluir sempre. Esperei meu momento e soube aproveitar a chance.”

“Não acho que dei resposta com o gol, não estou aqui para dar resposta a ninguém, para calar a boca de ninguém. Estou aqui no Botafogo para fazer o meu trabalho, para dar essa volta por cima junto ao grupo, com o apoio de todos. O gol só veio para coroar esse trabalho.”

“É gostoso ser reconhecido pelo trabalho. É bom ser reconhecido pela minha dedicação, pela briga que sempre tenho. Não tem nada melhor do que o gol na final para coroar meu esforço. Estou muito contente.”

Gosto da tua pessoa, Rafael Marques.

Fonte das citações: LANCENET!

Imagens: charge de Carlos Amorim; foto de Gabriel Assis / BFR; reprodução Facebook

2 comentários:

Gil disse...

Rui,

Mais uma vez concordo contigo: "o título de jogador dotado de maior resiliência no campeonato estadual de 2013".
Poucos resistiriam a tantas críticas, ambiente e vaias!

Incluiria o Juninho a Leandro Guerreiro, Lucio Flavio...., estava de saco cheio das promessas vazias. Melhor futebol para a próxima partida, próximo campeonato que nunca chegaram com essa turma. Até hoje tenho guardado na memória a fisionomia de desespero, medo, do Leandro Guerreiro na cobrança de penalidade em uma das decisões contra o esgoto da Gávea. Claro que perdeu! Esses eram os jogadores derrotados que mantivemos em General Severiano!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

É realmente espantosa a capacidade de resistência de Rafael Marques. Muito poucos, mas muito poucos mesmo, resistiriam a tantas críticas e vaias. Nesse plano, ele é notabilíssimo.

Sobre essa equipa de ´panelinhas' que incluia Alessandro, Juninho, Leandro Guerreiro, Renato Silva, Dodô, Zé Roberto e tantos outros, deixa-me dizer-te que a sua manutenção na equipa foi por vontade exclusiva de Cuca.

Os torcedores culpavam essa equipa, mas eximiam-se de criticar Cuca, que era quem mantinha essa equipa, insistindo até à exaustão em em Alessandro e Renato Silva e tomando gols atrás de gols nas costas dos dois.

Quem são hoje Alessandro, Renato Silva, Zé Roberto, Dodô, etc.?

A diretoria fazia tudo o que o Cuca, e ele não podia queixar-se de nada. A seu pedido a diretoria decidiu que Zé Roberto não mais jogaria no Botafogo devido a indisciplina; mas logo Cuca, apavorado com a suspensão do Dodoping, pediu à diretoria para reintegrar o indisciplinado Zé Roberto. Foi com este Cuca fatalista e que cobria jogadores comno Zé Roberto (vários atrasos e faltas a treinos), que nós estivemos dois anos, contando com chororô pelo meio ensaiado pelo trio bebeto de Freitas, Túlio e Cuca. Cuca, em vez de dar suporte à equipa após o Dodoping, passou nervosismo, medo e fatalismo, acabando por perder a liderança do Brasileirão.

Espero que este Cuca já tenha desaparecido, e que o Cuca do Atlético Mineiro seja outro, mais maduro, mais disciplinador, mais confiante. Para um dia voltar ao Glorioso com as qualidades que claramente lhe faltaram quando dirigiu a nossa equipa e com as qualidades que já tinha de montar equipas alegres a jogar futebol.

Abraços Gloriosos!

Botafogo campeão estadual de futebol sub-17 (com fichas técnicas)

Fonte: X – Botafogo F. R. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo conquistou brilhantemente o Campeonato Estadual de Futebol...