por
PEDRO ARÊAS, 25/08/2014
Hoje tem marmelada? Tem sim senhor!
Mas
outro tipo de marmelada, infelizmente. Não adianta mais apenas atuar no
espetáculo, tem que fazer parte da cúpula, da máfia, ou seu circo cai para a
segunda divisão. O desrespeitável público paga de palhaço, mas outro
tipo de palhaço, infelizmente. A arbitragem recebe rechonchudos subsídios para não deixar os artistas mais talentosos
sobressaírem além. Manipulam resultados. São manipulados. Alimentam-se bem às custas do
povo.
Hoje tem goiabada? Tem sim senhor!
Outro
tipo de goiabada, infelizmente.
E o palhaço o que é? É ladrão de mulher!
Quem
dera, meu Neto, que esses palhaços fossem meros ladrões de mulheres. Quem dera! Roubam muito além.
Outro tipo de palhaço, infelizmente. Os estádios estão padronizados, limpinhos,
tanto em sua estrutura quanto em seus convidados. O povão que não usa
perfume francês está longe, sem poder aquisitivo para shows de muito mau gosto e atores
engessados. Derrubaram nosso mais fantástico picadeiro para transformá-lo no Novo Maracanã,
que hoje mais se assemelha aos teatros ou casas noturnas de empresários megalomaníacos.
Já não mais nos pertence.
Atualmente, quando vejo os gols da rodada, se a TV estiver sem som, não
identifico mais nem as trupes nem os palcos. Tudo homogêneo. Tudo sem graça. Tudo sem vida,
porque a vida é arte. E a arte tem que ter um pouco de graça, mesmo quando melancólica. Estamos
nos distanciando das artes sem o devido consentimento. Basta olharmos em volta
e teremos nossas soluções em nosso quintal. Basta reinserirmos a palavra
liberdade em nosso dicionário, mas não esta atual, enfiada goela abaixo com auxílio luxuoso do capital estrangeiro, digo liberdade
com todas as suas letras, sem intenção de devolução, sem esperar troco das
individualidades. Os artistas mais talentosos e engraçados estão por aqui, basta estimulá-los. Deixar florescer em
vez de podar. Temos muitas miniaturas de mágicos, equilibristas, malabaristas,
cuspidores de fogo, homens bala, domadores, trapezistas
e palhaços escondidos pelas vielas e favelas desse palco magnífico chamado Brasil.
Temos
que deixá-los criar, para que os talentos retomarem seus devidos lugares,
deixá-los brincar com a vida. Devemos por honra mostrar que corpos caídos em
campo, só se for desconcertado por uma finta, por uma ginga, ou cair com as mãos na região
abdominal de tanto rir, nada de carrinhos assassinos
ou simulações de agressões cinematográficas, muito menos pernas quebradas ou
lesões graves. Chega de corpos de soldados inocentes estirados em campos
sem flores.
Podemos,
sim, reconstruir nossos circos, levantar a lona de nossas histórias,
moldar novos espetáculos e tornar a sorrir leves. Basta trabalharmos. Chega de espetáculos
ruins que nos invadem os lares! Vamos meter a mão na massa?
Por
fim, meu Neto, relato esta experiência para você entender um pouco de sua história. Não é bom vivermos presos ao passado não, mas
aderir ao presente sem raciocinar, para mim é impossível. E renegar seu passado,
é renegar-se. Quem viu o que eu vi de pertinho, não pode deixar de ser nostálgico, não há como.
Seria um crime contra mim. Só não o é, quem não presenciou. Prefiro rever meus filmes a ver esses
filmes de terror atuais. É como tomar um bom vinho, o gosto fica pra sempre, seu corpo curte o
sabor mesmo que sua memória lhe traia.
Sonho
com o dia que a arte virará esse jogo contra a matemática, há de acontecer, e
de goleada. Sonho com o dia que poderei te levar aos picadeiros mais
históricos. Sonho com o dia que te apresentarei um artista de rua, um mambembe feliz.
Sonho com o dia que verei seus olhos brilharem por boquiaberto, admirar o espetáculo. Sonho com
o dia em que os estádios tornarão a ser circos e campos de batalha, infantis picadeiros. Sonho
com o dia em que o respeitável público de pé vibrará efusivamente Bravo! Bravo!
Sonho
com o dia em que os comandantes não precisarão mais gritar nem ordenar, apenas admirar. Sonho
com o dia em que Manés aprontarão novas peripécias, derrubando Joões de bunda no chão com um
simples drible de corpo, e nos farão derramar bebida em nosso próprio colo por atônitos,
prestarmos mais atenção lá do que cá. Sonho com o dia em que a artilharia
pesada estará sentada no banco de reservas arrependida, e suas mãos, em vez de armadas, estarão estendidas estalando palma
contra palma num aplauso festivo em homenagem à ‘Enciclopédia do Futebol’.
Sonho
com o dia em que nosso Botafogo voltará a praticar alegria, palhaçadas, arte de rua para a
população carente de afeto, sem taças douradas ou premiações surreais. Sonho com o dia em que os
soldados voltarão a ser palhaços, e os generais e marechais, peças inutilizadas dos museus de
nossos mais remotos pensamentos...
Obrigado,
minha eterna ESTRELA SOLITÁRIA...
FIM
FIM
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