por Nicanor Sena Passos
Reprodução do facebook
[Nota
preliminar do Mundo Botafogo: O autor compara o que deseja que se passe no
Botafogo com aquilo que se passou com o futebol alemão. Não discordo dos
elogios feitos ao processo do rejuvenescimento do futebol alemão, mas não me
parece boa a comparação. As comparações – numa ótica de aquisição de boas
práticas através do método do benchmarking
– devem ser feitas com realidades semelhantes ou realidades de patamar
atingível – preferencialmente, eu faria comparações com o futebol latino
europeu, que é a realidade europeia mais próxima da cultura futebolística
brasileira (Espanha, Itália e Portugal) e que apesar dos seus defeitos possui excelentes exemplos de boa gestão. Ora, toda a cultura futebolística
botafoguense e brasileira não tem rigorosamente nada a ver com a cultura
futebolística alemã e, ademais, há pressupostos que não são passíveis de ser
transpostos para o futebol brasileiro. Por exemplo, a persistência, a noção de
civismo e a disciplina tipicamente militar dos alemães, não têm paralelo no
Brasil; por exemplo, a miscigenação futebolística alemã feita basicamente com atletas
nascidos no território nacional, mas oriundos de pais turcos, também não tem
paralelo nem no Brasil nem no Botafogo. O melhor que se pode fazer sobre esta
matéria em particular – e aí concordo – é observar sistematicamente os times de
base da América do Sul e contratar os jovens que aparentam podem vir a ser bons
jogadores. Não obstante, o autor é lúcido na sua análise, designadamente nas
críticas que faz ao Botafogo das últimas décadas e no lançamento de algumas
pistas de caminhada possível. Por isso, vale a pena ler os excertos que
selecionei de um texto originalmente muito extenso.]
“Pela
enésima vez, o BOTAFOGO inicia e termina temporadas sem fazer planejamentos
adequados. Em razão disso (falta de planejamento, clube administrado de forma
amadorística e elencos mal montados e desfeitos no meio da temporada), pela
centésima vez, o resultado prático se repete: o time não alcança os objetivos
desejados e o torcedor (que não é de ferro, afinal), sente-se frustrado.
Diante
disso, uma pergunta se impõe: o que fazer para alterar esse quadro (triste
quadro), que, de certo modo, já está se tornando uma marca no BOTAFOGO? Como
reverter o estágio de letargia e de pessimismo, para uma situação de otimismo,
no médio prazo?
Com
essa Diretoria Nota 1 e em final de mandato nem os mais otimistas poderão
esperar nada (já que, além de míopes e despreparados para administrar um clube
da nossa grandeza, são também burros, analfamães de pais e betos). (…)
O
primeiro aprendizado, portanto, é o BOTAFOGO acreditar que para estar na frente
implica uma condição essencial: que o clube se veja digno e merecedor de estar
no topo. Quem quer ser grande só tem uma hipótese de sê-lo: pensar grande. E
pensa grande quem grande se vê e assim se sente. (…)
A
segunda lição a ser observada pelo BOTAFOGO é ter a humildade para reconhecer
que os seus dirigentes, além de amadores, estabanados, são apáticos,
negligentes, descuidados, ociosos, preguiçosos, indolentes.
A
verdade é que trabalho, trabalho e trabalho, persistência, persistência e
persistência têm sido o diferencial, o essencial da receita para um
insuspeitadamente revigorado futebol alemão. (…)
A
tão decantada “valorização dos jogadores formados nas categorias de base” só
existe por questões financeiras: formar para vender – jamais para jogar no time
profissional! (…) [A terceira lição a ser aprendida pelo BOTAFOGO, dita] talvez
de um outro modo: um certo sincretismo étnico-cultural parece ter potenciado
sobremaneira as qualidades básicas do futebol alemão, tornando-o menos
estereotipado, menos previsível – e muito mais atrativo e criativo. Não seria o
caso de o BOTAFOGO seguir esse caminho? É de se esperar que (…) os novos
dirigentes [em 1915] do nosso ex-Glorioso façam uma boa mistura de atletas adquiridos nas
categorias de base dos países vizinhos (Uruguai, Argentina, Chile, Colômbia
etc.), com a garotada brasileira, nos moldes adotados pelo Bayern. (…)
A
quarta lição a ser aprendida pelo BOTAFOGO com o futebol alemão diz respeito ao
fato de que a ideia de que o bom ambiente da equipe, a sua saúde mental, a sua
felicidade, só existirá se (e somente se) o clube deixar, de uma vez por todas,
de tratar o seu torcedor como um inimigo em potencial – como ocorre atualmente.
O BOTAFOGO em muito contribui para a baixa estima do seu torcedor, que tolera
perfeitamente a infelicidade de torcer para um time movido a decisões
administrativas profundamente erradas. Se é verdade que não existem equipes
infelizes que possam ganhar, também não há torcedores realmente felizes em
torcer para um time que os fazem infelizes. Há algo errado nessa equação.
Ora,
a infelicidade de um jogador pode, quem sabe, estar apenas no indevido
aproveitamento que das suas capacidades humanas e técnicas possa estar a fazer
um treinador distraído, ou, pior ainda, humanamente ignorante – que os há por
aí a rodos. Infelizmente, isso tem ocorrido, de forma sistemática, no BOTAFOGO.
Talvez
fosse tempo de o BOTAFOGO deixar de lado a vocação administrativa de agir
sempre na base da superficialidade e a velha mania de improvisar... Quem sabe,
assim, aprendendo um pouco as lições demonstradas pelos clubes alemães,
aprendesse a administrar melhor o seu patrimônio!”
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