domingo, 10 de novembro de 2013

Por um Botafogo melhor

por Nicanor Sena Passos
Reprodução do facebook

[Nota preliminar do Mundo Botafogo: O autor compara o que deseja que se passe no Botafogo com aquilo que se passou com o futebol alemão. Não discordo dos elogios feitos ao processo do rejuvenescimento do futebol alemão, mas não me parece boa a comparação. As comparações – numa ótica de aquisição de boas práticas através do método do benchmarking – devem ser feitas com realidades semelhantes ou realidades de patamar atingível – preferencialmente, eu faria comparações com o futebol latino europeu, que é a realidade europeia mais próxima da cultura futebolística brasileira (Espanha, Itália e Portugal) e que apesar dos seus defeitos possui excelentes exemplos de boa gestão. Ora, toda a cultura futebolística botafoguense e brasileira não tem rigorosamente nada a ver com a cultura futebolística alemã e, ademais, há pressupostos que não são passíveis de ser transpostos para o futebol brasileiro. Por exemplo, a persistência, a noção de civismo e a disciplina tipicamente militar dos alemães, não têm paralelo no Brasil; por exemplo, a miscigenação futebolística alemã feita basicamente com atletas nascidos no território nacional, mas oriundos de pais turcos, também não tem paralelo nem no Brasil nem no Botafogo. O melhor que se pode fazer sobre esta matéria em particular – e aí concordo – é observar sistematicamente os times de base da América do Sul e contratar os jovens que aparentam podem vir a ser bons jogadores. Não obstante, o autor é lúcido na sua análise, designadamente nas críticas que faz ao Botafogo das últimas décadas e no lançamento de algumas pistas de caminhada possível. Por isso, vale a pena ler os excertos que selecionei de um texto originalmente muito extenso.]

“Pela enésima vez, o BOTAFOGO inicia e termina temporadas sem fazer planejamentos adequados. Em razão disso (falta de planejamento, clube administrado de forma amadorística e elencos mal montados e desfeitos no meio da temporada), pela centésima vez, o resultado prático se repete: o time não alcança os objetivos desejados e o torcedor (que não é de ferro, afinal), sente-se frustrado.

Diante disso, uma pergunta se impõe: o que fazer para alterar esse quadro (triste quadro), que, de certo modo, já está se tornando uma marca no BOTAFOGO? Como reverter o estágio de letargia e de pessimismo, para uma situação de otimismo, no médio prazo?

Com essa Diretoria Nota 1 e em final de mandato nem os mais otimistas poderão esperar nada (já que, além de míopes e despreparados para administrar um clube da nossa grandeza, são também burros, analfamães de pais e betos). (…)

O primeiro aprendizado, portanto, é o BOTAFOGO acreditar que para estar na frente implica uma condição essencial: que o clube se veja digno e merecedor de estar no topo. Quem quer ser grande só tem uma hipótese de sê-lo: pensar grande. E pensa grande quem grande se vê e assim se sente. (…)

A segunda lição a ser observada pelo BOTAFOGO é ter a humildade para reconhecer que os seus dirigentes, além de amadores, estabanados, são apáticos, negligentes, descuidados, ociosos, preguiçosos, indolentes.

A verdade é que trabalho, trabalho e trabalho, persistência, persistência e persistência têm sido o diferencial, o essencial da receita para um insuspeitadamente revigorado futebol alemão. (…)

A tão decantada “valorização dos jogadores formados nas categorias de base” só existe por questões financeiras: formar para vender – jamais para jogar no time profissional! (…) [A terceira lição a ser aprendida pelo BOTAFOGO, dita] talvez de um outro modo: um certo sincretismo étnico-cultural parece ter potenciado sobremaneira as qualidades básicas do futebol alemão, tornando-o menos estereotipado, menos previsível – e muito mais atrativo e criativo. Não seria o caso de o BOTAFOGO seguir esse caminho? É de se esperar que (…) os novos dirigentes [em 1915] do nosso ex-Glorioso façam uma boa mistura de atletas adquiridos nas categorias de base dos países vizinhos (Uruguai, Argentina, Chile, Colômbia etc.), com a garotada brasileira, nos moldes adotados pelo Bayern. (…)

A quarta lição a ser aprendida pelo BOTAFOGO com o futebol alemão diz respeito ao fato de que a ideia de que o bom ambiente da equipe, a sua saúde mental, a sua felicidade, só existirá se (e somente se) o clube deixar, de uma vez por todas, de tratar o seu torcedor como um inimigo em potencial – como ocorre atualmente. O BOTAFOGO em muito contribui para a baixa estima do seu torcedor, que tolera perfeitamente a infelicidade de torcer para um time movido a decisões administrativas profundamente erradas. Se é verdade que não existem equipes infelizes que possam ganhar, também não há torcedores realmente felizes em torcer para um time que os fazem infelizes. Há algo errado nessa equação.

Ora, a infelicidade de um jogador pode, quem sabe, estar apenas no indevido aproveitamento que das suas capacidades humanas e técnicas possa estar a fazer um treinador distraído, ou, pior ainda, humanamente ignorante – que os há por aí a rodos. Infelizmente, isso tem ocorrido, de forma sistemática, no BOTAFOGO.

Talvez fosse tempo de o BOTAFOGO deixar de lado a vocação administrativa de agir sempre na base da superficialidade e a velha mania de improvisar... Quem sabe, assim, aprendendo um pouco as lições demonstradas pelos clubes alemães, aprendesse a administrar melhor o seu patrimônio!”

Sem comentários:

John Textor, a figura-chave: variações em análise

Crédito: Jorge Rodrigues. [Nota preliminar: o Mundo Botafogo publica hoje a reflexão prometida aos leitores após a participação do nosso Clu...