por ROMÁRIO DE SOUZA FARIA
Deputado Federal (PSB-RJ)
Galera,
passado o luto das
primeiras horas seguidas da derrota, vamos ao que verdadeiramente interessa!
Quem tem boa memória, vai lembrar da minha frase: Fora de campo, já
perdemos a Copa de goleada!
Infelizmente, dentro
de campo, não foi diferente.
Ontem foi um dia
muito triste para nosso futebol. Venceu o melhor e ninguém há de questionar a
superioridade do futebol alemão já há alguns anos. Ainda assim, o mundo
assistiu com perplexidade esta derrota, porque nem a Alemanha, no seu melhor
otimismo, deve ter imaginado essa vitória histórica.
Porém, se puxarmos da
memória, vamos lembrar que nossa seleção já não vinha apresentando nosso melhor
futebol há muito tempo. Jogamos muito mal. Infelizmente, levamos sete e, por
mais que isso cause mal-estar, devemos admitir que a chuva de gols foi apenas
reflexo do pânico, da incapacidade de reação dos nossos jogadores e da falta de
atitude do treinador de mudar o time.
Vivemos uma crise no
nosso esporte mais amado, chegamos ao auge dela. Acha que isso é problema só
dos jogadores ou do Felipão? Nem de longe.
Nosso futebol vem se
deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer
sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios
brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos
e quadrilheiros!
O meu sentimento é de
revolta.
Estou há quatro anos
pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol,
uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado,
usando nosso hino, nossa bandeira, nossas cores e, o mais importante, nosso
material humano, nossos jogadores. Porque não se iludam, futebol é negócio,
business, entretenimento e move rios de dinheiro. Nunca tive o apoio da
presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Que
todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do Governo Federal
no nosso futebol.
Em 2012, eu
apresentei um pedido de CPI da CBF, baseado em uma série de escândalos
envolvendo a entidade, como o enriquecimento ilícito de dirigentes, corrupção,
evasão de divisas, lavagem de dinheiro e desvio de verba do patrocínio da
empresa área TAM. O pedido está parado em alguma gaveta em Brasília há dois
anos. Em questionamento ao presidente da Câmara dos Deputados, sr. Henrique
Eduardo Alves, ouvi como resposta que este não era o melhor momento para se
instalar esta CPI. Não concordei, mas respeitei a decisão. E agora, presidente,
está na hora?
Exceto por um vexame
como o de ontem, o Brasil não precisaria se envergonhar de uma derrota em
campo, afinal, derrotas fazem parte do esporte. Mas vergonha mesmo devemos
sentir de ter uma das gestões de futebol mais corruptas do mundo. A arrogância
dessa entidade é tão grande que até o chefe da assessoria de imprensa chega ao absurdo
de bater em um atleta de outra seleção, como fez o Rodrigo Paiva contra um
jogador do Chile Pinilla. Paiva pegou quatro jogos de suspensão e foi proibido
de acessar o vestiário dos jogadores. Este ato foi muito simbólico e diz muito
sobre eles. O presidente da entidade, José Maria Marin, é ladrão de medalha, de
energia, de terreno público e apoiador da ditadura. Marco Polo Del Nero, seu
atual vice, recentemente foi detido, investigado e indiciado pela Polícia
Federal por possíveis crimes contra o sistema financeiro, corrupção e formação
de quadrilha. São esses que comandam o nosso futebol. Querem vergonha maior que
essa?
Marin e Del Nero
tinham que estar era na cadeia! Bando de vagabundos!!!
A corrupção da CBF
tem raízes em todos os clubes brasileiros, vale lembrar que são as federações e
clubes que elegem há anos o mesmo grupo de cartolas, com os mesmos métodos de
gestão arcaicos e corruptos implementados por João Havelange e Ricardo Teixeira
e mantidos por Marin e Del Nero. Vale lembrar, que estes dois últimos mudaram o
estatuto da entidade e anteciparam a eleição da CBF para antes da Copa. Já
prevendo uma possível derrota e a dificuldade que eles teriam de se manter no
poder com um quadro desfavorável.
E os clubes? Sim,
eles também são responsáveis por essa crise. Gestões fraudulentas, falta de
investimento na base, na formação de atletas. Grandes clubes brasileiros estão
falindo afogados em dívidas bilionárias com bancos e não pagamentos de impostos
como INSS, FGTS e Receita Federal.
E toda essa má gestão
que tem destruído o nosso futebol, infelizmente, tem sido respaldada há anos
pelo Congresso Nacional com anistias e mais anistia destes débitos. Este ano
tivemos mais um projeto desses vexatórios para salvar os clubes. Um projeto que
previa que clubes pagassem apenas 10% de suas dívidas e investissem 90%
restante em formação de atletas. Parece até deboche. Uma soma de
aproximadamente R$ 4 bilhões ou muito mais, não se sabe ao certo.
Corajosamente, o deputado Otávio Leite, reconstruiu o texto e apresentou uma
proposta honesta estruturada em responsabilidade fiscal, parcelamento de
dívidas e a criação de um fundo de iniciação esportiva, com obrigações claras
para clubes e CBF.
Em resumo, a nova
proposta além de constituir a Seleção Brasileira de Futebol e o Futebol
Brasileiro como Patrimônio Cultural Imaterial – obrigava a CBF a contribuir com
alíquota de 5% sobre as receitas de comercialização de produtos e serviços
proveniente da atividade de Representação do Futebol Brasileiro nos âmbitos
nacional e internacional. O tributo também incidiria sobre patrocínio, venda de
direitos de transmissão de imagens dos jogos da seleção brasileira, vendas de
apresentação em amistosos ou torneios para terceiros, bilheterias das partidas
amistosas e royalties sobre produtos licenciados. O valor seria destinado a um
fundo de iniciação esportiva para crianças e jovens de todo o Brasil. Esses e
outros artigos dariam responsabilidade à CBF, punição à entidades e outros
gestores do futebol, a CBF estaria sujeita a fiscalização do TCU e obrigada a
ter participação de um conselho de atletas nas decisões.
Mas este texto
infelizmente não foi para a frente. Sete deputados alemães fizeram os gols que
desclassificaram nosso futebol e nos tirou a chance de moralizar nosso esporte.
Estes deputados, como todos sabem, fazem parte da Bancada da CBF, mudei o nome
porque Bancada da Bola é muito pejorativo para algo que amamos tanto. Gosto de
dar os nomes: Rodrigo Maia (DEM -RJ), Guilherme Campos (PSD-SP), Arnaldo Faria
de Sá (PTB-SP), José Rocha (PR-BA), Vicente Cândido (PT-SP), Jovair Arantes
(PTB-GO) e Valdivino de Oliveira (PSDB-GO).
Essa partida ainda
pode ser revertida com a votação do projeto no Plenário da Câmara. Será que
esses sete deputados voltarão a prejudicar o nosso futebol?
O futebol brasileiro
tomou uma goleada e a derrota retumbante, infelizmente, não foi só em campo.
Nem sequer tivemos o prazer de jogar no Maracanã, um templo do futebol mundial,
reformado ao custo de mais de R$ 1 bilhão. Acha que foi porque não chegamos a final?
Não. Poderíamos ter jogado qualquer outro jogo lá. A resposta disso é ganância
e arrogância. É a CBF que escolhe onde o Brasil vai jogar, mas, obviamente,
poderia ter tido interferência do Ministério do Esporte e da presidência da
República, mas nenhum destes se manifestou. Quem levou com essas escolhas?
Para fechar com chave
de ouro, a CBF expulsou do vestiário Cafú, capitão de seleção do
pentacampeaonato. Cafú foi expulso do vestiário enquanto cumprimentava os
jogadores ontem. Este é o retrato do nosso futebol hoje, não honramos a nossa
história.
Dilma tem sim que
entregar a taça para outra seleção. Este gesto será o retrato do valor que ela
deu ao nosso futebol nos últimos anos! Eles levarão a taça e nós ficaremos com
nossos estádios superfaturados e nenhum legado material, porque imaterial,
mostramos para o mundo que com toda nossa dificuldade, somos um povo feliz.
Essa será a taça da
vergonha.
Nota do Mundo Botafogo: Texto originalmente
publicado no facebook do ex-futebolista Romário de Souza Faria, atualmente
deputado federal pelo PSB-RJ, e reproduzido em inúmeros sítios da Internet.
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