por Carlos Vilarinho
especialmente
para o Mundo Botafogo
sócio-proprietário
e historiador do Botafogo de Futebol e Regatas
[Nota preliminar do Mundo
Botafogo: Carlos Vilarinho reproduz, no capítulo respeitante ao ano de 1956, a carta de um português botafoguense que
enviou a sua história para a coluna do Jornal dos Sports intitulada ‘A História
do Torcedor’.]
Meu nome é Carlos Dias Ferreira. […] Há dezessete anos sofro com o meu Botafogo.
Tenho acompanhado, com muito interesse, todas as narrativas dos sofredores do
football. Eu resolvi também escrever a minha. Sou português. Deixei minha terra
aos quatorze anos para vir tentar a sorte neste país, que aprendi a amar desde
os primeiros anos de colégio. Vim residir com o meu tio, aqui radicado há muito
tempo. Meu tio me prendia em seu estabelecimento. […] Dando-me casa e comida,
achava que eu nada devia receber em dinheiro.
[E por isso Carlos Dias
Ferreira não tinha recursos para ir ao estádio ver jogos de futebol,
acompanhando a modalidade via rádio e jornais.]
Certo dia […] virou-se
para mim e exclamou: “Olha, rapaz, vou te levar ao jogo, mas tens que torcer
pelo Vasco”. No íntimo, só porque ele era vascaíno doente, eu pensava torcer
pelo adversário. […]
No primeiro tempo tive uma grande decepção. O Vasco
vencia por 3x0. Eu ma podia esconder a minha dor vendo meu tio delirar. […] No segundo tempo, o Botafogo
transfigurou-se. Dominou o Vasco em todos os setores da cancha. O grande
Paschoal abre a contagem e aumenta, até chegar a 4x3 a nosso favor. Quando veio
o goal da vitória não me pude conter. Acho que gritei no ouvido do meu tio.
[…] Foi a conta. No outro dia, tive de procurar emprego e casa. Mas estava
vingado. […]
Desde esse dia nunca mais perdi uma partida daquele grande
team. […]
[Nota final do Mundo Botafogo:
Carlos Dias Ferreira referia-se a uma partida que contava simultaneamente para
o Campeonato Carioca e para o Torneio Rio-São Paulo, realizada no dia 21 de julho
de 1940, no estádio de São Januário, em que o Botafogo estava a ser goleado por
3x0 pelo Vasco da Gama aos onze minutos do 1º tempo. Porém, quatro gols de
Paschoal consagraram uma das maiores viradas na história do Botafogo. Leia mais
sobre este jogo em http://mundobotafogo.blogspot.pt/2010/05/virada-de-paschoal-botafogo-4x3-vasco.html.]
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Excerto autorizado pelo autor. In: VILARINHO, C. F.
(2013). O Futebol do Botafogo 1951-60. Rio de Janeiro: Edição do Autor, p. 168.
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