quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Sporting e o seu novo modelo de gestão

Foto: Lusa

Caro leitor, não perca a leitura desta verdadeira lição de gerir o futebol de um grande clube.

Nos termos e para efeitos do cumprimento na obrigação de informação que decorre do disposto no artigo 248º, nº 1 al. A) do Código dos Valores Mobiliários, o Conselho de Administração do Sporting Clube de Portugal – Futebol, SAD vem informar que foi formalizada a revogação por mútuo acordo do contrato de trabalho desportivo entre Sporting SAD e o treinador da equipa principal de futebol, Leonardo Jardim. Em contrapartida da revogação a Sociedade encaixará um montante fixo de € 3.000.000,00 (três milhões de euros), ao qual acresce um montante variável de até € 3.000.000.00 (três milhões de euros), dependente da obtenção de títulos nacionais e internacionais pelo seu futuro clube.”

Em consequência, o treinador do Sporting, Leonardo Jardim, prestigiado à frente dos Leões e fazendo uma campanha notável em 2013/2014 após o 7º lugar de 2012/2013, deixou o comando da equipa principal.

Jardim vestiu a ‘camisa de sonho’ – segundo as suas palavras – no dia 20 de Maio (de 2013) e no mesmo dia 20 de maio (de 2014) despiu-a.

Esperava-se que a nova temporada tivesse já uma equipa consolidada nos padrões de Jardim, mas o treinador, embora seja sportinguista, não resistiu à proposta de três milhões de euros por ano apresentada pelo Mônaco.

Todavia, com a nova diretoria, que virou o Sporting ao contrário afastando todos aqueles que durante anos dominaram o clube e o menorizaram, não se sai do clube de qualquer maneira. As saídas dos jogadores Bruma (negociado para o Leste europeu) e de Elias (negociado com o Corinthians), que no passado seriam feitas à maneira deles e em prejuízo do clube, com esta diretoria foi à maneira do presidente, e quando aqueles jogadores saíram, saíram nas condições que o Sporting exigia. A imprensa brasileira noticiou – apoiada evidentemente nas palavras do pai de Elias – que o presidente do Sporting fazia birra, porque o clube não tinha dinheiro e ele queria vendê-lo por um preço exorbitante. O que o presidente fez foi, uma vez mais, defender os interesses do clube e mostrar que doravante não se brinca com os Leões. E, acrescente-se, desde há muitos anos sem contas equilibradas, a temporada terminou com um balanço de muito mais receitas do que despesas!

E como não se sai de qualquer maneira, o Sporting acionou a cláusula de multa do contrato de Jardim – uma novidade em termos de contratação de um treinador – e vai embolsar três milhões de euros, negociando ainda o recebimento de mais três milhões de euros segundo os resultados que Jardim obtiver futuramente no Mônaco – outra enorme novidade. Não satisfeito com este negócio, o presidente sportinguista ainda tinha uma cláusula de multa no valor de 15 milhões de euros em caso de saída do treinador para um clube português. Se nos próximos quatro anos algum clube português contratar Leonardo Jardim, terá que pagar ao Sporting o montante diferencial do valor recebido até aos 15 milhões. Isto é, ou fica afastado pelo menos quatro anos do futebol português ou o clube que o contratar terá que pagar entre 9 a 12 milhões de euros (de acordo com os valores entretanto recebidos pelo Sporting, que serão de 3 milhões no mínimo e de 6 milhões no máximo).

Esta, sim, é uma verdadeira diretoria que encarna até ao âmago o lema sportinguista: “Esforço, Dedicação, Devoção e Glória”.

Mas há mais. Ontem mesmo, Claudio Ranieri, treinador do Mônaco, saiu do clube; ontem mesmo o Sporting anunciou a rescisão amigável com Leonardo Jardim que vai assumir o Mônaco; ontem mesmo o Sporting assinou com um treinador português que é a maior revelação dos últimos anos após a ascendência de José Mourinho e André Villas-Boas e que hoje foi publicamente apresentado.

Trata-se de Marco Silva, 36 anos, ex-lateral que jogou os últimos seis anos da carreira no Estoril (109 jogos), tendo iniciado a função de treinador no próprio clube em 2011 e até ontem (106 jogos). Em 2011/2012 Marco Silva venceu a Série B do futebol português, nunca vencida pelo clube e na qual se encontrava há 7 temporadas, e guindou o Estoril ao escalão principal. Em 2012/2013 Marco Silva obteve para o Estoril a melhor classificação de sempre do clube na primeira divisão: 5º lugar, que deu direito à estreia do Estoril numa competição europeia. Aí, conseguiu eliminar o Hapoel (0x0 e 1x0) e a seguir o FC Pasching (2x0 e 2x1). Então chegou à fase de grupos, enfrentando o Sevilha, que acabou de ganhar a Liga Europa este ano na final contra o Benfica, tendo soçobrado naturalmente, mas ainda assim com resultados interessantes para a dimensão de pequeno clube que é (3 derrotas e 3 empates, um dos quais na casa do Sevilha). Na temporada que findou, 2013/2014, Marco Silva continuou a bater recordes: guindou o Estoril à inédita 4ª posição do campeonato português, apenas atrás dos três grandes: Benfica, Porto e Sporting. Portanto, uma espécie de campeão dos clubes médios e pequenos.

A equipa do Estoril joga um futebol muito consistente, com um orçamento diminuto, e na última rodada do campeonato que terminou foi a Alvalade vencer o Sporting, onde ninguém tinha vencido nesta temporada.

Em suma, uma vez mais Bruno de Carvalho evidenciou a sua enorme capacidade de líder e de gestor, resolvendo com a maior ‘limpeza’ os assuntos em pauta, contratando um jovem e promissor treinador e não velharias do nível de Oswaldo Oliveira.

Sobre o novo treinador, quando ainda não tinha revelado a sua contratação, anunciou que teria que “ser o treinador que idealizamos desde o primeiro dia: alguém com muita ambição, que tenha a plena compreensão da dimensão do Sporting e do projeto de assumir o Sporting como a grande potência do futebol nacional”. Nem mais nem menos: alguém que tenha plena compreensão do lugar do Sporting e do seu projeto muito bem definido pela diretoria desde a primeira hora.

E para evidenciar que acredita na escolha certa do treinador e para garantir estabilidade no desenvolvimento do projeto em curso, Bruno de Carvalho trouxe-nos outra novidade inédita em Portugal, que jamais ocorrera anteriormente: quando todo o mundo esperava um contrato da praxe, normalmente de dois anos, eis que Bruno de Carvalho contrata a jovem promessa por… 4 anos!

Somente o futuro dirá do acerto da contratação, mas pelas palavras de despedida de Marco Silva do Estoril, pelo menos a qualidade humana está assegurada:

"Ao fim de 9 anos de ligação ao Estoril Praia, sinto este clube como uma família. Foi aqui que escolhi terminar a minha carreira de jogador profissional e é ao Estoril que devo o início da minha carreira como treinador. Por isso, agradeço ao seu Presidente, Tiago Ribeiro, a aposta que fez e a oportunidade que me deu para desenvolver este trabalho fantástico. Como se costuma dizer, a sorte dá muito trabalho. É um facto. Mas a verdade é que ao longo da vida há momentos e pessoas que marcam o nosso destino. Quero deixar uma palavra muito especial aos jogadores. Foi com eles que mais aprendi e foram eles, a cada dia, que me ajudaram a ser um melhor profissional. Deixem-me partilhar esta convosco.”

Consta que Marco Silva já está em poder dos planos para 2014/2015 e a par do projeto ambicioso que Bruno de Carvalho levou para Alvalade.

Hoje, na conferência de imprensa de apresentação do novo treinador, a ambição foi a palavra de ordem tendo como destino conquistas “à Sporting”, tal como referiu Marco Silva. Mostrando ser capaz desde logo de compreender e captar o sentimento sportinguista, assegurou ser “’uma grande honra assumir um clube da grandeza do Sporting Clube de Portugal pela sua história, pelas suas glórias e pela sua cultura.”

Não contente com isso, o presidente, em articulação com o departamento de futebol, já se desfez de três jogadores sobre os quais tinha direito de preferência em caso de querer comprá-los e já contratou dois reforços, um dos quais é Simeon Slavchev, um médio-ofensivo búlgaro de 20 anos, isto é, armador polivalente lançado para a frente de ataque, que se mostrou impressionado com o estádio do Sporting e que ao epíteto que lhe foi atribuído pela imprensa estrangeira como sendo o ‘Lampard da Bulgária’ respondeu assim: - “Tenho grandes sonhos. Quero ser melhor do que Lampard.” Não contratou velharias como Jorge Wagner, em declínio, mas gente jovem e em crescimento.

Em suma, parece realmente impossível, e no mínimo inacreditável, que eu esteja uma vez mais, e sempre, de acordo com Bruno de Carvalho, uma vez que eu próprio apostaria no jovem treinador, que aparenta um enorme potencial de crescimento. Em pouco mais de um ano de comando, Bruno de Carvalho ACERTOU EM TODAS AS SUAS DECISÕES!

Continuo perplexo com a qualidade do homem!

Ah, meu amado Botafogo, quando terás um presidente assim, ao estilo de gestão de Bruno de Carvalho ou segundo um perfil como o do saudoso Paulo Antônio Azeredo?

5 comentários:

Sergio Di Sabbato disse...

Parafraseando o grande poeta português, "sonhar é preciso", pois sem sonhar sucumbimos. Eu ainda sonho com o Botafogo novamente gigante, mas gigante de verdade, não esse anão do assumpção, então quem sabe se não aparece um presidente da estirpe do Bruno de Carvalho. Abs e SB!

Gil disse...

Rui,

Já escrevi isso e não cansarei de fazê-lo: Como Invejo os Torcedores do Sporting!

Nos meus 57 anos de vida não tenho esperança de ver um Brasil melhor e também de um Botafogo próximo ao que ocorre como o Sporting!

Pobre do atual Botafogo!
Pobre de nós, Torcedores!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

O meu 'comentário' ao seu sonho, Sergio:

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

In Movimento Perpétuo, 1956

Ruy Moura disse...

Eu perdera a esperança de um presidente sportinguista capaz depois de tantos incapazes. Mas aconteceu. Quem sabe se o nosso Glorioso não é atraído por uma alma gêmea do Bruno de Carvalho e essa alma se sente na cadeira do presidente...

Abraços Gloriosos.

José Gonçalves disse...

Caro Rui, às vezes sinto vontade de comentar as postagens publicadas, mas quando leio 'sem comentários' vejo que esta é a melhor definição que se poderia ter. Essa foi mais uma.

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