terça-feira, 25 de outubro de 2016

Chuva, bendita sejas!

por LÚCIA SENNA, escritora e cantora
escrito para o blogue Mundo Botafogo

Sempre gostei de chuva. A chuva me cai como uma luva. Ainda melhor, se for à noite com todos os filhos dentro de casa, debaixo da asa. A chuva me traz uma sensação gostosa de paz, de aconchego, de uma certa calma que me lava a alma.  O cheiro da chuva, então, é algo absolutamente indescritível, inigualável! Não há nada comparável! E cheiro de terra molhada pela chuva? Há quem não goste? Certamente há. O mundo está repleto de pessoas com o olfato danificado, estragado.

Pessoas há, para seu governo, que só dão valor ao cheiro de um hambúrguer ou ainda de comida frita, com óleo saturado, batata encharcada, fritura pura.  Vivem com azia, mas não ligam pro azar. Comem de joelhos, rezando até se fartar ou... enfartar! Não entendem nada de cheiro de chuva, nem mesmo o que vem a ser, deitada na rede, ouvi-la cair no telhado. Não, não adianta explicar: seria chover no molhado!

A chuva me faz pensar no passado, nas lembranças da infância, nas tempestades de fim de tarde que transformavam a cidade de Manaus em um verdadeiro caos. Tomar banho de chuva era programa. A meninada adorava. O drama vinha depois, pois os pais não perdoavam, as crianças apanhavam e levavam um senhor sermão. Mas de nada adiantava.

Depois de um dia quente, uma chuva de verão era mais que um convite, acredite!  Era uma verdadeira tentação. E a criançada, já esquecida das malvadas palmadas, corria para o meio das calçadas a gritar: "Sol e chuva, casamento de viúva” ou "Chuva e sol, casamento de espanhol". Melhor do que a farra em si, só mesmo a sensacional sensação vinda do fato de estarmos transgredindo certas regras determinadas pelos nossos pais. Era demais! Valia uma surra e até um carão.

Chuva há pra todos os gostos. Tem aquela fininha, que não tem hora pra ir embora, parece que enguiça, nos dá preguiça e é capaz de ficar ali, dias e dias desafiando a nossa impaciência com a sua permanência.  Não adianta pedir ‘por favor’, ‘dá licença’, ela só vai quando bem quiser, sem nos dar ciência.

Tem chuva pesada, que chega do nada, mas chega zangada e vem sempre acompanhada de um assessor grosseiro, metido a machão, com voz de trovão. Confesso que tenho até medo. A sorte é que é rápida como um raio, senão, sei não... Tem chuva de granizo, tem chuva de gelo, tem chuva com sol, tem chuva de vento cujo barulho parece um lamento, tem chuva de outono e de inverno. E tem as de verão, que rápidas e rasteiras são.

Chuva de verão, minha preferida... és forte, intensa, sabes te expor. Vens e vais sem nenhum rodeio.  Chuva de verão, contigo não tem mais-mais: se fosses mulher serias amante, ‘ficante’. Casamenteira, jamais!  Se fosses mulher, repito, serias meio Elis e terias muito da Leila Diniz – que viveu pouco, mas soube ser chuva passageira, íntegra, inteira, intensa, feliz! Chuva de verão, bonita, gostosa e faceira, se fosses mulher, serias bem brasileira!

33 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muitissimo.Parabens.

Anónimo disse...

Lógico que comentar, da Lúcia, esta crônica,
Um dilúvio causará: é chover no molhado!
Chuva caindo no telhado, estereofônica,
Incentiva mais a cronista, de "bom olhado",
Aa natureza ligada: Floresta Amazônica!

Mais uma vez esgotaste o assunto tratado,
Amalisando cada um dos pingos de chuva,
Relaxada em tua rede, com toda certeza,
Intuição, portanto, completamente acesa,
Atrás da palavra casada, não da viúva...

Sensacional a foto escolhida pelo Ruy,
Espírito do texto pegando, sem mutretas,
Naturalmente que me dificultando mui,
Na busca do que, diante da imagem, não rui,
Armando pra cima de mim que lido com letras...

Castigo que, afinal, me propiciou deleite,
O cérebro inteiro vibrando em megatons,
Ser atacado em dois flancos, não há quem aceite,
Tremendos, os "inimigos", artistas dos bons...
Ah, garanto foi como tirar, de pedra, leite!

Sérgio Sampaio, www.umpoetinha.com.br

Anónimo disse...

Chuva, bendita sejas! Lucia, bendita sejas!
Que texto mais suave e reconfortante...
Você escreve lindo!
Quando abro o blog, vou direto procurar por você. A imagem postada está belíssima.
Felicidades.
Marcelo Aguiar - arquiteto.

Anónimo disse...

Amiga, é sempre agradável ler suas crônicas. Esta, em especial, é feita de palavras refrescantes. Quem dera hoje caísse qualquer uma delas para amenizar este dia de verão fora de época. Parabéns!

Anónimo disse...

Que chuva mais gostosa.
Aprovada a comparação com a mulher brasileira. Achei ótimo!
Felicidades

Anónimo disse...

Você gosta de chuva e eu gosto de você,Lucia Senna.So peço que você não saia de cena.Continue a nós enca tar com suas crônicas,bonitas como chuvas de verão.

Anónimo disse...

Lucia. Ouvi tua crônica mais do que a li. É uma pequena orquestra, que vai dos triângulos aos tímpanos. Li que és cantora.És a bem dizer uma escritora-cantora.Rara.

Lucio de Almeida

Lúcia Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lúcia Costa disse...

Oi, Marcelo

Que comentário " mais suave e reconfortante ". Saber que procuras por mim no blogue, enche-me de entusiasmo e inspiração. A belíssima imagem foi escolhida por Ruy Moura, nosso editor. Ele é craque nisso também.
Marcelo, bendito sejas! Tua elogiosa mensagem deixa-me muito, muito feliz!
Um grande abraço,

Lúcia Costa disse...

Caro(a), amigo (a)

Chuvas são sempre gostosas. Em Manaus, devido ao violento calor, chove quase diariamente. Chuvas pesadas e rápidas. Deliciosas! Chuvas de verão, minhas preferidas.
A comparação com as brasileiras... bem, puxei a brasa para a minha sardinha (kkkk).
Nada mais justo, não é mesmo?
Agora, vou te fazer um pedido: Adoraria que te identificasses...nossa relação ficaria ainda mais próxima. Sim, é só um nome, mas faz muita diferença. Afinal, o nome é a primeira coisa que entregamos a alguém quando iniciamos uma amizade. O que achas?
Um grande abraço,

Anónimo disse...

Muito boa a crônica! Me fez voltar à infância também. Que gostoso tomar banho de chuva!A chuva é gostosa, essencial para a vida, mas também aterrorizante quando vem forte, exagerada, com ventos fortes, destruidores. Aí tenho medo,muito medo. Mas que linda crônica! Expressa tudo que eu sinto. Parabéns!Repito:_Muito boa! Sonia Costa

Lúcia Costa disse...

Que mensagem mais gostosa!Tão gostosa quanto as chuvas de verão. Não, meu querido amigo " Anonymous"- não tenho a menor intenção em sair de cena; no entanto, não está nas minhas mãos tal decisão. Adoro participar do Mundo Botafogo - blogue de incalculável prestigio e que alcança mais de 150 países.
Tudo o quero, meu caro amigo, é continuar te emocionando e merecendo comentários tão carinhosos, como esses que agora me fazes.
Um pedido final: saia do anonimato, ok?
Abraços,

Ruy Moura disse...

Ousando corrigir a Grande Escritora (mil perdões por isso, querida):

A Lúcia Senna terá sempre em suas mãos a decisão sobre a sua presença no blogue, porque além de ser dona absoluta da rubrica 'letras lúciasenna', também foi nomeada, há já algum tempo, 'Rainha do Mundo Botafogo'.

Sem a Lúcia este blogue faria o milagre de, pela primeira vez em toda a vida da Google, jorrar tantas lágrimas quantas as necessárias pra que um dilúvio acabasse por submergir a nossa inconsolável tristeza.

A Rainha Lúcia é o RISO do Mundo Botafogo!

Abraços Gloriosos.

Janette almeida disse...

Fiquei apaixonada pelas suas chuvas.
Sua forma de escrever é única...:
Tem magia,tem leveza,tem bom humor e tem sonoridade.Agora sei a razão : você é cantora.É isso explica tudo.
Parabéns!

Lúcia Costa disse...

Ruy, meu querido editor

Obrigada pelas palavras e pelo carinho de sempre. Se dizes que a decisão de permanecer ou não no blogue será minha, então... jamais sairei de cena. Aproveito a oportunidade para te dizer, Ruy, que fazer parte do Mundo Botafogo é altamente gratificante pra mim. Mais que um editor, tens sido um grande amigo, sempre
prestigiando-me com belíssimas homenagens que tanto me emocionam. Agora mesmo acabas de me presentear com uma rubrica e com o título de " Rainha do Mundo Botafogo ". Quanta honra!
Tristeza inconsolável sentiria eu, se a vida - imprevisível, como ela só - me afastasse do blogue. Meu choro seria tão intenso que acabaria se transformando em uma torrencial chuva de lágrimas. Teria, então, que acrescentar no texto sobre CHUVAS, mais um tipo : Chuvas de lágrimas. E o meu RISO, para sempre, submergiria.
Mais uma vez te agradeço o maravilhoso espaço que me concedes no Mundo Botafogo.
Abraços Gloriosos.

Lúcia Costa disse...

Sérgio,
Só tenho uma única coisa pra te dizer : És genial.
Obrigada por mais um poema.Estou colecionando.
Abraços,

Lúcia Costa disse...

Obrigada,caro(a) amigo(a)

Grande abraço,

Lúcia Costa disse...

Oi, Sonia
Nós, que nascemos no norte do Brasil, sabemos, perfeitamente, a delícia que é tomar um banho de chuva. Era, na realidade, a minha brincadeira favorita. Gostava de fazer barquinhos de papel e vê-los sumir, levados pelas correntezas que se formavam ao longo das calçadas.Era mágico!
Infância e chuvas de verão, momentos inesquecíveis.
Obrigada, amiga, pelo teu carinho e amizade.
Bjs.

Lúcia Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lúcia Costa disse...

Maria Inês, irmã querida
Tens razão. O calor anda sufocante e ainda estamos na primavera. O verão já está a caminho trazendo chuvas abundantes e refrescantes. Entristece-me, no entanto, o estrago que elas provocam nas comunidades carentes e cidades serranas.
Nada é perfeito.
Obrigada pelo teu comentário, sempre especial.
Bjs e ...saudades!

Anónimo disse...

Agora estou tranquilo Seu editor me tranquilizou uma vez por todas.
Você é cantora.Li na homenagem que você recebeu do Blog.
Será que você canta tão bem quanto escreve? Aposto que sim.
Ainda não vou me identificar.
Basta saber que sou seu tiete.

Lúcia Costa disse...

Lúcio.
Teu comentário é belíssimo! Deixaste-me bastante emocionada quando declaras ter
"ouvido" o meu texto. Aposto que, como eu, tens histórias envolvendo chuvas. Já deves ter 'ouvido', com toda certeza, o ritmo dos pingos caindo em algum telhado, em algum alpendre... E isso é poesia pura!
Escritora-cantora, sim. Rara? Ah, Lúcio... és muito gentil !
Obrigada pela tua encantadora participação.
Grande abraço.


Lúcia Costa disse...

Caro amigo " Anomymous"

Sou a pessoa menos indicada para responder a tua pergunta.
A decisão é tua e se não queres te identificar, sem problemas.
Obrigada e um abraço.

Lúcia Costa disse...

Apaixonada pelas " minhas chuvas?" Que bonitinho, Janete! Divido-as contigo. Dizes que há mágica, leveza e sonoridade no que escrevo. E eu digo que és dona de grande sensibilidade pois, só que as tem é capaz de se apaixonar por chuvas.
Sim , Janete , sou cantora também. Adoro cantar. Escrevi uma crônica sobre isso. Provavelmente, passando pelo crivo do nosso editor, é possível que, em breve, seja publicada.
Obrigada pela sensível mensagem.

Anónimo disse...

Amo chuva!Aquele barulhinho na vidraça e cheiro terra molhada.Que delícia!Traz paz e aconchego como as suas palavras.Percebo que a leveza é uma constante nas suas crônicas.Como você consegue tanta leveza,nesse mundo tão conturbado?Parabéns!!
Carmem cardoso

Anónimo disse...

Nada como um olhar poético para descrever a chuva! E soba ótica de Lucia Costa ficou simplesmente perfeito. Adorei, Parabéns!
Raquel Coelho

Anónimo disse...

Lúcia, que lindo texto !!!!! Amei, assim como amo a chuva e, assim como você, principalmente as de verão que me remete a um passado de criança que adorava andar na chuva! Grande beijo e uma chuva de aplausos para você !!!!!!!!!!!! Graça

Lúcia Costa disse...

Oi,Carmem

Teu questionamento- sobre a leveza das minhas crônicas- é bem interessante. Entre tantas outras razões, uma , sem dúvida, tem grande importância. Moro em Botafogo, no início da Real Grandeza, uma das principais do bairro. No final da rua está o Cemitério de São João Batista. Aproveito pra te dizer que acho péssimo termos um cemitério dentro da cidade. Sei que tem muita gente que gosta de visitá-los e em alguns lugares são até pontos turísticos. Definitivamente, não é o meu caso. Bem, mas o que acontece é que, querendo ou não, passo muito por ele e , então, me vem a clareza da nossa FINITUDE. E isso, por incrível que pareça, faz com que eu ame cada vez mais a vida. Procuro, então, levar as coisas de uma forma mais suave, mais leve e mais bem humorada. E é natural que essa leveza acabe, também se refletindo no que
escrevo. É claro que não sou sempre assim. Aliás somos muitos, somos tantos...
Mas,o que posso te dizer, Carmem, é que procuro olhar a vida com bons olhos.Afinal, ela é tão curtinha....
Forte abraço,

Lúcia Costa disse...

Oi Raquel,
Também tens olhar de poeta, pois consegues ver beleza e poesia nas coisas mais simples da vida, ccmo Chuvas, por exemplo.
Agora uma observação: aqui no blogue sou Lucia Senna. Lucia Costa é a outra - a cantora ((kkkkk).
Beijos,querida

Anónimo disse...

dizia Mario Quintana;
DA MORTE
Um dia...pronto!...,me acabo.
Pois seja o que tem que ser.
Morrer:que me importa?...O diabo
É deixar de viver!!
Carmem

Anónimo disse...

Bruxa amada,

Sempre tao precisa e sutil, delicada e assertiva. Amo suas crônicas, elas tem a capacidade de transformar coisas mundanas em coisas profundas mas sem perder o encanto do simples.

Queremos mais. Quero uma de Natal!! Com Renas e nariz Vermelho.

Te amo!

Gaby

Lúcia Costa disse...

Obrigada, amiga
pela chuva de aplausos. Essa chuva que me dedicas é a melhor delas ; melhor até do que as chuvas de verão (kkkkkkkk)
Bjs, Gracinha

Unknown disse...

Há uma Ana terra pra cada joao trovão. Eu quero olhar no olho daquele professora e dizer: SAY MY NAME!

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